Camaradas!
Venho, obviamente, falar-vos dos Açores e do Bloco de Esquerda.
Nos Açores - cujas Eleições Regionais se realizaram, ainda não há um mês -, tínhamos, como objectivo, manter, na Assembleia Legislativa, os dois lugares conquistados, em 2008.
Como sabeis, este objectivo não foi conseguido: alcançámos apenas um lugar, no Parlamento regional.
Sabíamos, desde Maio, que a tarefa ia ser muito difícil, a partir da decisão do Presidente do Governo Regional, Carlos César, de não se recandidatar.
Este facto, só por si, acompanhado de um certo desgaste do PS/Açores, há 16 anos no governo, colocava, de forma clara, por um lado, a possibilidade do PSD chegar ao governo, por outro, a lógica da bipolarização funcionar de forma demolidora para os restantes partidos que não disputavam a presidência do governo.
Esta bipolarização foi ainda agravada com as medidas do Governo da República, nomeadamente, com a proposta da Taxa Social Única e com o pacote fiscal.
O PS, mais uma vez, qual camaleão, vestiu a pele da luta contra a austeridade e fez toda uma campanha afirmando que só o PS/Açores podia minorar este ataque do governo PSD/CDS, na região.
Também não ajudou o tipo de cobertura das televisões nacionais: à excepção da RTP/Açores (que teve uma cobertura exemplar), as televisões nacionais (que se vêem através do cabo) só falavam do PS e do PSD.
Tínhamos e temos confiança no trabalho feito, no desdobramento da linha política nacional à situação concreta dos Açores. Por isso, sempre afirmámos que não estava em causa a nossa permanência no Parlamento e a prova disso foi que, neste tsunami, fomos a força política que melhor lhe resistiu e até, na principal ilha - S. Miguel -, somos a terceira força política.
O CDS, por exemplo, que tem uma implantação mais antiga e uma base sociológica muito própria - numa terra onde ainda existem relações pré-capitalistas -, sofreu o que sofreu. Penso que está tudo dito.
Apesar deste desaire, estamos confiantes e determinados a prosseguir o nosso trabalho de enraizamento, na região, e o desafio das Autárquicas vai constituir um reforço deste nosso desígnio.
Por tudo isto - e por muito mais que é impossível explicar neste espaço de tempo -, é que é para nós e para quem, no continente, percebe o fenómeno político das regiões autónomas, manipulador ou ridículo (depende do estado de espírito) tirar extrapolações para o todo nacional, como têm feito alguns dos analistas encartados sediados no continente.
Fazê-lo, só pode significar uma de duas coisas: ou ignorância ou má fé. À primeira, aconselhamos estudo e conhecimento do terreno. À segunda, não está ao nosso alcance a terapia.
O Partido Socialista, no governo dos Açores, assumiu também o seu compromisso com a troika. Cortou os subsídios de férias e de Natal – medida a que não estava obrigado, de acordo com o Estatuto Político-Administrativo da região.
Implementou a sua ‘taxa social única’, no caso dos trabalhadores da EDA (a EDP de lá). Cortou os subsídios aos trabalhadores desta empresa mas, no mesmo ano, decidiu distribuir dividendos aos seus accionistas, ou seja, o próprio governo e privados.
Votou contra a proposta do Bloco de Esquerda, de um Código de Trabalho para a região (do qual as medidas do governo PSD/CDS são excluídas), apesar de termos a terceira maior taxa de desemprego do País.
Este é o mesmo PS que, nos Açores, a partir do próprio governo regional, encarna a oposição ao governo da República, aproveitando a nova face de Seguro, no seu palavreado contra a austeridade.
Se é certo que este facto coloca, em termos regionais, problemas tácticos complicados para um partido político como nós, não deixa de ser interessante – agora, no plano nacional - extrapolar esta nossa experiência.
É que esta nossa experiência com um governo PS - pós troika -, mostra, de forma clara, que o risco da troika é aquele que define os campos e as políticas futuras.
Só o corte com a troika permite outra política, que não seja o garrote da dívida, ao serviço da banca nacional e internacional. Só o corte com a troika permite pôr fim à asiatização das relações laborais e dos direitos sociais.
Esta nova cara da direcção do Partido Socialista, não é assim tão nova como isso: perante a provável implosão do governo PSD/CDS, propõe-se substituí-lo, de forma a manter-se a mesma política, com pormenores diferentes. Tem sido este o papel histórico do PS: seguir a política da direita, sem a direita no governo.
Temos tido uma linha de actuação sobre o PS que a Moção A se propõe continuar e com a qual estou de acordo.
Mas esta linha é acusada pela Moção B de sectária. E eu pergunto: sectária onde e quando?
Em todo o texto e argumentação da Moção B, não se dá um exemplo de como fazer diferente, uma proposta concreta para que nós visualizemos a diferença. Estou certa de que não será por incapacidade mas, camaradas, esta forma de fazer política (tipo sombras chinesas), não ajuda o debate e não o clarifica.
Sob o manto do anátema do sectarismo cabe, como todos/as sabemos, muita coisa… A exigência que a Moção B faz de rigor e de clareza, neste aspecto concreto, não a pratica. E esse é o desafio que aqui vos deixo, camaradas.
Quanto ao mais, a luta continua. Toda! E sempre!