Agora este!

Pelo aniversário da Cidade de Ponta Delgada, foi-nos lembrado um conjunto de situações urbanas por resolver, que se arrastam há anos, mas que agora é que o vão ser, sem, contudo, refletirem madura reflexão, que não tiveram, pese o tempo decorrido desde a sua génese.

As Centrais de Camionagem, ou talvez melhor, as Estações Rodoviárias, equacionadas no Plano Geral de Urbanização de Ponta Delgada de 1994, no eixo Paim /São Gonçalo, já aí dificilmente serão possíveis, ou mesmo de todo impossíveis, por nunca nestes trinta anos, ter havido vontade de as implementar e salvaguardar atempadamente terrenos para o efeito, e por isso as novas localizações imiscuir-se-ão no tráfego interno, com as devidas consequências negativas.

Mas ainda só se fala na de poente, no espaço da Sinaga, quando as duas têm que ser objeto de projeto comum, equacionado no quadro do sistema da mobilidade viária da Cidade.

Também será desta o “fecho da obra” do Mercado da Graça, porque é disso que se trata, despachar o que para ali está, de qualquer maneira, mantendo o mau projeto, quando havia todo o tempo para se ter feito um concurso de ideias, ou mesmo sem ele, elaborar um outro projeto que requalificasse e dignificasse o equipamento, a zona histórica, e então, todos compreenderíamos o tempo gasto em prol de uma boa solução.

Outro projeto anunciado é o prolongamento da Avenida D. João III, entre a Rua Engenheiro José Cordeiro e a Avenida Marginal, pensado enquanto simples projeto viário de cruzamento de duas vias com uma rotunda, uma que escorrega avenida abaixo e encontra a outra numa bolacha maior ou menor, quando terá que ser, ou deveria ser, muito mais, assumindo a requalificação urbana daqueles espaços, oportunidade única de cicatrização de todo aquele tecido urbano, operação que requer tratamento cirúrgico, porquanto conhecemos as mãos dos curandeiros, que por ali têm andado.

Não é compreensível que depois dos 25 anos de convulsões urbanas a que a Calheta foi sujeita, com maus resultados bem visíveis, como a “Quarta Travessa da Calheta”, e todas as cicatrizes envolventes, e as que surgirão com o novo hotel, não se equacione um Plano de Pormenor que projetasse convenientemente a sua requalificação.

O Plano integraria o prolongamento da Avenida D. João III, reconduzindo a Fundição e toda a área envolvente, atual parqueamento e edifícios devolutos, toda a área habitacional contida entre a “Quarta Travessa da Calheta” e a Terceira Travessa, requalificando todo o conjunto, a que se virá um dia juntar a requalificação do Estabelecimento Prisional.

Assim não sendo, e porque o edifício da Fundição nunca foi classificado, sendo propriedade particular, com provas dadas na ânsia dos grandes proveitos económicos, o prolongamento equacionado para a Avenida, ausente de quaisquer pressupostos urbanos, apenas garantirá a continuidade das convulsões urbanas sentidas.

Por último, equaciona-se novo troço de estacionamento subterrâneo para a Avenida Marginal, mais precisamente da Praça Vasco da Gama - Avenida Conselheiro Luís Bettencourt, a construir segundo concurso de conceção/ construção.

Ora, o concurso de conceção/ construção esmaga as ideias, os preços e as soluções, o prazo não; deixa o empreiteiro de mãos livres, libertando o dono de obra de inquietações, para além do pagamento dos autos de obra mensais, e por isso a sua eleição para uma zona tão sensível, que requer arquitetura, afigura-se como um quarto tiro no pé, e talvez por isso, sem garantia de se ir a prolongamento, se chute com o pé que está mais à mão.