A sociedade moderna subsiste nas costas da cultura. A cultura é um compêndio dos costumes, tradições, crenças, padrões morais, manifestações artísticas e intelectuais e de outras características que distinguem uma sociedade. Recentemente foi tornado público que a cidade de Angra do Heroísmo, considerada Património Mundial pela UNESCO desde 1983, optou por desistir do apoio à candidatura de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura de 2027, remetendo o seu apoio à cidade de Évora. A candidatura do município micaelense continua na corrida com o apoio financeiro do Governo Regional.
De forma a contextualizar, a Capital Europeia da Cultura é uma iniciativa da União Europeia que promove uma cidade da Europa, por um período de um ano, durante o qual a cidade detém a oportunidade de mostrar à comunidade europeia a sua vida e desenvolvimento cultural, permitindo um conhecimento mútuo entre os cidadãos europeus.Mas, afinal, porque recuou o executivo angrense?
Através das palavras do Vereador da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Guido Teles, eleito pelo Partido Socialista, percebemos, mais uma vez, o desinvestimento sistémico que é feito na cultura. Argumentou com quantias monetárias, mas omitiu os benefícios que este apoio traria aos municípios da região. A nomeação de uma cidade açoriana como Capital Europeia da Cultura traria para a região uma verba de 25 milhões de euros, a investir em diversas atividades de cariz cultural, expondo a cultura das nossas gentes espalhadas por nove ilhas neste oceano Atlântico, fomentando o turismo e revitalizando as iniciativas populares e culturais.
Ficou assente que, caso seja Ponta Delgada a cidade escolhida, todas as ilhas beneficiarão de ações culturais e respetivo financiamento assegurado pelo Governo Regional. Para uma cidade que já se conheceu por “Capital da Cultura”, não se entende este desfecho. Não quero crer que questões bairristas se tenham sobreposto à criação e fruição cultural que esta ilha merece. Há aqui latente uma progressiva desvalorização na cultura das nossas gentes, dos artistas e artesãos, dos músicos, atores e atrizes que urge recuperar.
É com perplexidade que deveremos encarar a decisão do executivo angrense de menosprezar a possível regeneração e internacionalização da sua cultura, perdendo a oportunidade de cimentar o Carnaval popular como Património Imaterial da Humanidade. Passa-nos ao lado a oportunidade de revitalizar a vida cultural local e o turismo regional, validando o progressivo desinvestimento numa cultura que se pretende dinâmica. Nenhum município regional deveria ficar fora deste projeto, remetendo o seu apoio a outras cidades. Deveríamos sim salvaguardar e promover a diversidade e riqueza cultural terceirense e açoriana, abrindo-nos à cultura contemporânea também existente nesta ilha (e tão desvalorizada) e a todas as formas de cultura provenientes de outros países! Lamentável esta decisão. Ficamos todos e todas nós a perder, pelas escolhas políticas de um executivo sem perspetivas futuras.