Hoje trago uma catrefada de referências que nos devem fazer pensar. Confesso que o faço, também, porque é difícil escrever sobre este assunto, de tal forma violenta é a informação. Falo da situação que que está a acontecer em Gaza, do genocídio, impossível de negar, que já levou, até, ao Tribunal Internacional emitir mandados de captura para líderes israelitas e do Hamas [1]. Estamos a falar de uma destruição avassaladora, cujos números são absolutamente horripilantes [2]. Mais de 15 000 crianças já foram mortas em Gaza. As próprias agências da ONU no local estão a ser atacadas [3] e a ajuda humanitária está a ser negada [4].
Já morreram tantos palestinianos desde outubro como ucranianos desde fevereiro de 2022. Não obstante, o tratamento internacional tem sido muito diferente, até porque Israel é visto como um aliado do Ocidente (e produto deste). Face a esta inação dos governos, vários protestos se desencadearam, como nos Estados Unidos [5]. Vários estudantes a ocupar as suas universidades, exigindo um corte de relações das instituições com Israel. A resposta tem sido a brutalidade, sendo de referir que é habitual os conselhos de administração terem pessoas com ligações a Israel [6].
Em Portugal também se formou esse movimento estudantil [7]. Devia ser um orgulho termos gente que se importa com a vida humana a milhares quilómetros de distância, mesmo sem implicações diretas neles. Olhando para o caso do Porto: pacificamente ocuparam uma zona exterior da FCUP, sem ter interrompido ou impedido qualquer aula. Exigiam um corte de relações com Israel, o que já tinha acontecido com a Rússia, sem problema [8]. A diretora decidiu lidar com o protesto da pior forma, recusando o diálogo e fazendo um ultimato. Um segmento dos ocupantes, em resposta, ocupa uma sala de estudo (onde não decorrem aulas). Existe violência por parte dos seguranças e de estudantes que se assumem como de extrema-direita. Na manhã seguinte os estudantes acabam a ocupação frente a um forte contingente policial, sem qualquer vestígio de vandalismo. Impacta-me particularmente a quantidade de mentiras que outros estudantes afirmam: entre armas brancas e vandalismo, que a própria diretora reconheceu não existir.
Numa ação mais recente, num protesto pacífico ao discurso de von der Leyen, os manifestantes foram agredidos pela polícia [9] e pelos próprios militantes do PSD/CDS/PPM [10], enquanto a presidente da Comissão Europeia, numa trágica ironia, afirmava que «Se vocês estivessem em Moscovo estariam presos em dois minutos», saudando a liberdade de expressão que os manifestantes tinham.
Este é o nosso tempo, são os nossos contemporâneos, saibamos estar do lado certo da História, aquele que respeita a dignidade humana.
[1] https://news.un.org/pt/story/2024/05/1831876
[2] https://www.aljazeera.com/news/longform/2023/10/9/israel-hamas-war-in-maps-and-charts-live-tracker
[5] https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd134y7zw3yo
[6] https://www.instagram.com/p/C6eikmouK51/?img_index=1
[7] https://mariasaraivabrandao.wordpress.com/2024/05/18/o-espaco-que-as-ideias-ocupam/
[10] https://twitter.com/britoguterres/status/1799033836149584021