As razões do meu voto nas europeias

Quem não votou no passado domingo, dia 2, deverá fazê-lo no próximo dia 9. Pela primeira vez, é possível votar em qualquer mesa de voto sem necessidade de inscrição prévia.

Quanto a mim, já o fiz. Votei convictamente no Bloco de Esquerda. O Bloco assume como prioridades o investimento na saúde, na educação e na ação climática; a Palestina e a Ucrânia; a defesa dos direitos dos migrantes e refugiados; a defesa dos trabalhadores e dos salários; e o combate aos offshores. As candidatas apresentadas pelo Bloco estão notoriamente bem preparadas — e os candidatos também!

É comparável a experiência de Catarina Martins com a de Sebastião Bugalho? Não é. É comparável o conhecimento que cada um tem dos dossiês relevantes para a União Europeia? Não, não é — como ficou bem patente nos debates. Bugalho é especialista em comentar todo e qualquer assunto, ficando-se sempre pela rama. Foi levado ao colo pelos media vários anos e não tem competência para ser deputado europeu. É muita, muita parra para pouca, tão pouca, uva. Tenho encontrado múltiplas figuras relevantes e respeitáveis do PSD que estão muito desiludidas com a lista agora apresentada, incluindo um ex-ministro com quem tive a oportunidade de conversar na feira do livro em Lisboa. Ao perguntar-lhe o que achava do cabeça de lista, riu-se envergonhadamente e acrescentou “prefiro não comentar”.

Acresce que o PSD tem tido uma posição absolutamente lamentável relativamente ao genocídio que decorre em Gaza, que teve como auge a cedência, por parte de carlos moedas, do Cinema São Jorge para a comemoração do 76º aniversário do Estado israelita, numa altura em que as suas forças armadas causaram a morte direta de mais de 8 mil crianças. Morreram em poucos meses em Gaza mais crianças do que em quatro anos de conflitos armados em todo o mundo, incluindo a invasão da Ucrânia!

Quanto à IL, considero chocante a indiferença e inação relativamente às alterações climáticas. Que diferença há, em termos práticos, entre um partido negacionista e outro que reconhece a ciência mas se recusa a agir? Basta ouvir Coutrim de Figueiredo (cabeça de lista nestas eleições) na sua intervenção, em Fevereiro, num debate do PSuperior (a partir do minuto 53). Para além disso, tive oportunidade de trocar emails com o deputado da IL Mário Amorim Lopes, que me disse, num tecno-otimismo bacoco, que a solução passa por aviões a baterias ou hidrogénio. Acontece que estas propostas de conversa de café têm graves problemas em lidar com a realidade dos factos, nomeadamente com a inviabilidade destas tecnologias num futuro próximo. É consensual entre os cientistas que a ação climática é urgente, e existem muitas medidas que podem e devem ser postas em prática hoje. Esperar décadas por um tipo de avião diferente ou é desonesto ou é inconsciente.

Relativamente ao partido chega, penso existirem dois pontos fundamentais: primeiro, este é um partido que é financiado pelas famílias mais ricas de Portugal, incluindo as Mello e Champalimaud. É um partido que serve a elite e angaria fundos na Quinta da Marinha — não é um partido preocupado connosco. Segundo, é um partido que não tem apenas duas, mas sim muitas caras diferentes: a do tiktok, a do instagram, a do facebook, a dos cartazes, a dos debates, etc.. Propositadamente, fazem com que as suas mensagens mais extremistas sejam vistas apenas por alguns, como o recente cartaz em que aparecem deputadas do partido ao lado (e em oposição) a uma mulher de burca.

Quanto aos votos de protesto, que certamente incluem os votos em branco e os nulos: partilho de muitas das frustrações que levam várias pessoas a um voto assim. No entanto, apelo muito encarecidamente a que se proteste na rua e não na urna. Há ainda que ter em consideração que um voto nulo ou em branco é tanto um voto nos partidos chega, ergue-te e adn como é um voto nos restantes. Certamente existem melhores alternativas, incluindo, no limite, escolher um ao acaso de entre os partidos decentes.

Na hora de votar, escolhamos a alternativa mais construtiva!