Mais umas notas sobre a Europa

No último artigo mencionei as candidaturas às europeias, mas sem focar nos candidatos açorianos. Aproveito este momento para isso e para trazer umas estatísticas sobre o mandato deste Parlamento Europeu.

Desde logo, confesso a minha surpresa, à falta de melhor palavra, sobre a não escolha de Vasco Cordeiro por parte do PS Açores, devido ao seu grande envolvimento recente com a União Europeia, enquanto presidente do Comité das Regiões. É verdade que ainda não houve um ex-líder a ocupar essa posição, talvez fosse visto como uma rutura, um afastamento. Do lado do PSD, em 2019 estivemos quase nesse cenário. Na altura, Mota Amaral foi avançado como candidato, mas a direção nacional barrou e o PSD Açores ficou sem eurodeputado e recusou-se a fazer campanha [1]. Este ano o cenário não parece mudar muito, com o seu candidato em sétimo lugar, tendo e conta que nas duas últimas eleições o PSD elegeu 6 deputados (e as sondagens não parecem indicar uma grande melhoria). O PSD Açores bufou, mas aceitou [2]. A tradição da inclusão de nomes das regiões autónomas nos lugares elegíveis, até 2019 feita por PS e PSD, agora só é mantida pelo PS, esta parece ser a sua confirmação. Não deixa de ser irónico isto acontecer num partido que defende a criação de círculos eleitorais nas regiões autónomas para estas eleições [3].

Passemos a uma breve análise do mandato deste Parlamento Europeu de 2019 até 2024, através de uma excelente peça do POLITICO [4]. Parece-me importante começar por salientar que os eurodeputados portugueses são aqueles com maior número de textos apresentados, como autores ou autores-sombra, em média, por deputado. Seguidamente, elenco os primeiro e segundo temas mais trabalhados por cada grupo parlamentar europeu:

A Esquerda (onde estão BE e PCP) tem 88 textos sobre ambiente e 25 sobre emprego e assuntos sociais (37 deputados).

Os Verdes (onde estava o PAN e quer estar o L) têm 160 textos sobre ambiente e 38 sobre controlo do orçamento (72 deputados).

Os Socialistas (onde está o PS) têm 121 textos sobre ambiente e 103 sobre economia e assuntos monetários (140 deputados).

Os Liberais (onde pretende estar a IL) têm 119 textos sobre controlo do orçamento e 94 sobre o orçamento (102 deputados).

Os Populares (onde está PSD e CDS) têm 215 textos sobre controlo do orçamento e 159 sobre ambiente (177 deputados).

Os Conservadores têm 109 textos sobre o controlo do orçamento e 35 sobre ambiente (68 deputados).

Os Nacionalistas (onde pretende estar o CH) têm só 93 textos no total (o tema mais participado tem meramente 14 propostas), pelo que nem faz sentido descrever (59 deputados).

Julgo ser visível aqui a clivagem entre esquerda e direita, com a primeira a valorizar o ambiente, questões sociais, e a direita preocupada com política orçamental – também sabemos que a extrema-direita não trabalha. Os segundos temas mais trabalhados permitem perceber as inclinações que esses grupos têm entre essas grandes categorias.

Existem 17 candidaturas, várias delas com candidatos açorianos. Sejamos capazes de discutir, realmente, a Europa e aproveitar a oportunidade destas eleições funcionarem por círculo único (o voto útil não tem lugar).

[1] https://acores.rtp.pt/politica/psd-acores-confirma-que-nao-vai-participar-na-campanha-eleitoral-para-as-europeias-video/

[2] https://www.acorianooriental.pt/noticia/bolieiro-esta-confiante-na-eleicao-de-nascimento-cabral-para-a-europa-359478

[3] https://psdacores.pt/2023/04/tempo-da-razao-ao-psd-na-criacao-de-circulo-eleitoral-dos-acores-ao-parlamento-europeu/

[4] https://www.politico.eu/article/european-parliament-data-groups-far-right-green-deal-gender/