A coligação de direita que governa os Açores nasceu de uma conjugação de vontades pouco coerente e sem nenhuma afinidade, que se tocam em algumas matérias, divergem noutras tantas mas que são agregadas por um fator fortíssimo a que se chama “Poder”.
Tem sido o apego ao poder que tem mantido em funções um governo pleno de atropelos, ingerências, guerras subterrâneas e criação de clientelas políticas.
Tem sido o apego ao poder que tem levado o governo de direita a aceitar todo o tipo de intervenções externas da direita de Lisboa na política açoriana. Depois da época das incursões de Ventura nos Açores, ameaçando deitar abaixo o governo mês sim, mês não, chegou a hora Liberal.
Após a mudança de liderança nacional da Iniciativa Liberal (IL), o novo líder, Rui Rocha considerou que o acordo nos Açores, que permitiu ao PSD chegar ao governo, tinha sido um erro. A IL nos Açores resolveu dar uma ajudinha à estratégia nacional rasgando o acordo de incidência parlamentar que, juntamente com o Chega, garantiu o apoio parlamentar necessário para que o governo tomasse posse e tivesse o seu programa aprovado. O acordo nos Açores era um embaraço que convinha resolver rapidamente. Rui Rocha tratou do assunto com uma viagem aos Açores. Dois dias depois a IL anunciou que o acordo estava morto.
Tanto a IL como o Chega nos Açores são meros peões da estratégia nacional dos seus partidos. Os Açores são um tabuleiro onde se joga o futuro da direita no país. No entanto, rasgado em poucos ou muitos bocadinhos, a ausência de acordos significa apenas que CH e IL continuarão, como já assumiram, a decidir proposta a proposta. Resulta dessa informação que, o mais certo, é que o próximo orçamento da região seja aprovado com os votos dos suspeitos do costume.
O governo dos Açores e a maioria que o vai suportando, com ou sem acordos, são uma versão voluntária de “Hotel Califórnia” cantado pelos Eagles: rasgas o acordo quantas vezes quiseres, mas na verdade nunca te vais embora. O apego ao poder é mais forte do que a vontade de sair. Com a benção do Presidente da República a quem compete dissolver a Assembleia Legislativa se assim o entender.
Rejeito a instrumentalização da política regional feita pela direita em função de agendas de Lisboa com pouca ou nenhuma preocupação com quem vive e trabalha nos Açores, e que passa por inúmeras dificuldades que se agigantam a cada dia com o aumento do custo de vida.
Em vez de jogos de poder que se desenrolam nos corredores, cabe a quem quer afirmar uma alternativa política credível olhar para os problemas das pessoas e apresentar a sua alternativa a um governo que está unicamente preocupado em sobreviver. É isso que o Bloco tem feito ao longo de toda a legislatura e continuará a fazer. Não será a agenda nacional da direita a determinar a ação do Bloco. Ela é determinada pelas necessidades dos açorianos e açorianas, pela necessidade de lutar por uma economia que garanta direito ao salário, à habitação, à saúde, por exemplo, para os jovens que saem da região ou para quem não encontra senão precariedade e salários de miséria.
É nos Açores que a inflação mais sobe atualmente. É nos Açores que a pobreza é maior. É nos Açores que 77% das famílias têm dificuldades financeiras e que quase 40%recebe apenas o salário mínimo. São esses os problemas que movem o Bloco e nos desafiam a apresentar soluções alternativas.