O projeto final da Variante só agora foi tornado público e é um perigo

O projeto final e completo da variante à cidade da Horta só agora foi tornado público. É pena que só na fase de concurso o mesmo tenha sido revelado, porque nos deixa muito pouco tempo para agir. Esta ocasião é, portanto, fundamental para atentar em detalhes ausentes da versão simplificada do projeto - que nunca foi apresentado publicamente - e que são particularmente preocupantes, por questões urbanísticas e de segurança.

 

A variante é um projeto urgente mas…

Não é demais relembrar a urgência de criar uma rua que ligue o norte e o sul da cidade a uma cota mais elevada, por forma a tirar trânsito da avenida marginal e possibilitar a mobilidade transversal nos bairros altos da cidade. Mas essa urgência não pode suplantar questões tão importantes como a segurança e a qualidade de vida de uma parte significativa da população. Se um projeto, como é o caso, só se propõe a resolver o problema de quem circula de carro, criando por outro lado problemas urbanísticos como cortar um bairro residencial a meio e restrições à mobilidade e à segurança numa zona alargada da cidade, ele tem obrigatoriamente de ser revisto e adaptado às diferentes necessidades que convivem na comunidade.

 

Um bairro cortado a meio

Com o perfil proposto, esta variante torna-se num autêntico e intransponível muro, ao ser ladeada por taludes que chegam aos quatro metros de altura e cortam o Bairro das Dutras a meio. Em vez de se portar como uma artéria ao serviço dos diferentes tipos de utilizadores, o facto de ter apenas um ponto de acesso à variante nessa zona, estrangula a ligação entre as partes alta e baixa do bairro e, por extensão, com o centro da cidade. Importa rever este perfil sobretudo nas zonas habitacionais.

 

Rotundas sobredimensionadas e uma estrada fora de escala

As quatro rotundas que o projeto contempla estão desenhadas para comportar entre 30 a 60 mil carros por dia, uma clara sobredimensão para os 15 mil habitantes da ilha. Os 12 m de largura de alcatrão para 2,40 m de ciclovia e 2 m de passeio de cada lado são muito fora de escala para o tamanho da cidade e do seu número de habitantes. Não faz sentido fazer uma estrada megalómana à medida do financiamento disponível: o que faz sentido é fazer uma estrada dimensionada à medida do que a necessidade exige - e felizmente a Horta não é subúrbio de uma grande metrópole.

 

Uma estrada insegura

Independentemente do limite de velocidade que vier a ser estipulado, o perfil proposto é o de uma estrada onde os carros conseguem circular a 100km/h. Ora a experiência diz-nos que se for possível e confortável para o condutor, este é levado a cometer excessos e infrações, aumentando a probabilidade de haver acidentes e a sua gravidade. Para piorar, a estrada só tem passadeiras junto às rotundas, deixando troços de até 800 m de extensão sem passagem segura para os peões. Por fim, quando por toda essa Europa se anda a fazer por tirar os carros das entradas das escolas, aqui propõe-se instalar uma rotunda gigantesca em frente à ESMA.