No passado domingo, quando já era quase segunda, começou a cerimónia da Academia que premeia os melhores desenvolvimentos cinematográficos do ano. Pela passadeira vermelha passam aqueles que tomam por missão de vida fazer cultura, oferecendo-nos momentos de lazer, mas também aprendizagem e reflexão. Da noite fica o desgosto daquele que foi a primeira indicação portuguesa a um Óscar não se ter convertido num vencedor – se continuarmos a ter esse mesmo desgosto nos próximos anos, estaremos nós muito bem.
Por cá, o plenário da semana passada constituiu um longo filme, cuja sequela está por vir, mas não sei se é guardada com ansiedade. Dado o drama em que os Açores estão mergulhados desde 2020, parece-me fazer sentido atribuir alguns Óscares.
Desde logo, um belo Óscar de maquilhagem para a Iniciativa Liberal que, a um ano e meio de eleições, percebe na alhada que se enfiou e se tenta distanciar. Uma verdadeira operação de cosmética. Sabemos que o Governo Regional está em maus lençóis quando a IL rompe um acordo com ele, mesmo apesar de duas das suas principais reivindicações estarem a ser cumpridas: endividamento 0 e privatização da SATA. Com sorte, o Governo ganha juízo e deixa cair ambas.
Que se note que a IL já se prepara para um novo Óscar: o da melhor Fotografia. Se é verdade que eles agora se estão a tentar por apresentáveis, nos próximos tempos andarão, ilha a ilha, a garantir que ficam bem na fotografia. Nunca desdenhar um falso sorriso amarelo: a IL em 2020 fez História com uma demonstração matemática, aplicada à demografia: é possível eleger concorrendo apenas em São Miguel e Terceira – é normal a confiança, até se ouve o tilintar das garrafas de champanhe a serem armazenadas. Deverão apostar com mais força na Terceira para tentar eleger sugando o CDS, ou pelo menos garantir a compensação caso elejam em São Miguel, e a concorrer a todos os círculos para ter lugar nos debates frente-a-frente. O melhor de tudo? A IL não pode apresentar uma moção de censura por ser uma representação e não grupo parlamentar. Vai se a ver e, no final disto tudo, são os paladinos da estabilidade. Ou será que são uma real ameaça à sobrevivência de Bolieiro?
O Óscar de melhor ator secundário vai diretamente para Carlos Furtado. Alguém tinha de ser o primeiro a dar o grito, mas o segundo grito ser logo a seguir coloca em causa se este último existiria sem o primeiro. Claro que dizem que sim, até pelo historial de críticas, mas parece que Furtado estava a desejar mesmo uma companhia que o impedisse de ficar sozinho a ameaçar uma estabilidade que, a existir, corresponde a um elefante em cima de uma bola. Mas não nos enganemos: quando o governo pode cair por um deputado, todo o ator secundário pode virar principal.
O Óscar de melhor argumento vai claramente para o Chega. Pacheco e Ventura eram claros candidatos ao de melhores atores pela forma como dizem o que dizem sem se desmanchar a rir na cara das pessoas, mas, a este ponto, as suas atuações estão completamente esgotadas. Então vem a força política que mais vezes rompeu o acordo e voltou a cozê-lo por sessão legislativa, agora acusar outros de instabilidade e conspiração? O número de ziguezagues deste enredo já atingiu o limite: a partir daqui é mesmo desligar a televisão e voltar ao mundo real, dos reais problemas.
Por fim, um Óscar de melhor guarda-roupa para Bolieiro: no Dia da Mulher vestiu a sua melhor personagem ativista para afirmar, com todo o orgulho, que é tão feminista que até concede a uma mulher a magnífica oportunidade de ser secretária regional. A cada dia, Bolieiro arranja forma de demonstrar a sua falta de noção.