Ambição, precisa-se!

Na semana passada, escrevi, nas páginas deste jornal, um artigo intitulado “Mar, a ambição do nosso futuro”.

Nele, expunha  preocupações  sobre as futuras explorações dos fundos marinhos dos Açores, desde a sua sustentabilidade até à sua harmonização, com outras formas de exploração do mar.

Paralelamente, fazia eco de uma proposta, com dez anos, do Bloco de Esquerda/Açores, a qual consiste na criação de um centro público internacional de investigação do mar.

Em boa verdade, a proposta é mais abrangente e consiste num centro de investigação do mar, do vulcanismo e das alterações climáticas, tendo como base o DOP, sediado no Faial, que seria o embrião de tal projecto.

Se, há dez anos, este desafio - que considero uma âncora para o futuro da economia avançada dos Açores - tinha todo o sentido, a vida e cada dia que passa vêm dar mais razão a esta proposta do Bloco de Esquerda.

A melhor maneira de defendermos as eventuais riquezas que o fundo do mar (ou as fontes hidrotermais) escondem  é o conhecimento sobre elas. A investigação científica, o eventual registo de patentes, a aplicação deste conhecimento em novas tecnologias e produtos, o desenvolvimento da bioquímica, enfim, todo um mundo que se pode abrir, a partir deste centro científico.

No mínimo, ter nos Açores um pólo de excelência internacional, bem dimensionado e com recursos, é um investimento, a médio prazo, para emprego muito qualificado e atracção de cientistas a nível mundial, lançando a nossa economia para outros patamares.

Foram estas preocupações que levei  ao último Plenário do Parlamento Regional, em forma de Declaração Política.

Foi triste o que se passou: desde uma lógica burocrática de defesa da legislação produzida, até ao ataque desdenhoso, sobre a ambição de ter um centro de vanguarda, nos Açores, houve um pouco de tudo.

Ambição, perspectivar os Açores e  a nossa economia para lá do costume, do pequenino e dos salários baixos, foi coisa que não se viu, naquele Plenário.

Uma visão mesmo pequena, que só queira defender o que existe, percebe que, a curto/médio prazo, a continuarem as políticas troikistas (mesmo sem troika) do PSD e CDS, acompanhados pelo PS, a Universidade dos Açores está condenada, tal como a conhecemos.

Defender esta importante conquista da Autonomia é basilar, para o futuro desta Região; é urgente dar-lhe escala, dotá-la de importância decisiva, quer científica, quer económica, tanto para os Açores, quanto para o país.

Este centro que defendemos é, não só um projecto de futuro mas, nas actuais condições, também uma urgência, quando os abutres da finança começam a desviar os seus impulsos predatórios para os nossos mares.

Se nada fizermos - como disse na Assembleia Legislativa -, corremos o risco de transformar a Secretaria Regional dos Recursos Naturais, numa imobiliária de venda e aluguer do mar e o respectivo Secretário, num agente imobiliário.

É isto que queremos para os Açores?!

Ao DOP, se não forem os Açores e o país a dar-lhe escala internacional, nos próximos anos, qualquer multinacional o coloca debaixo da sua alçada e lá se vai mais uma alavanca da nossa economia.

Queremos continuar a ver o Presidente do Governo Regional a viajar, para  mendigar esmolas para projectos  falidos e nefastos aos Açores, ou queremos vê-lo a viajar para projectar os Açores do futuro, desenvolvido e pujante?

Eu e o Bloco de Esquerda, já escolhemos! E quem mais?