De cigarras a formigas

 

Dizem que uma mentira mil vezes repetida jamais se transformará numa verdade. Pode ser. Mas o certo é que a metáfora das “cigarras piegas” – lembram-se? -, que tinham de ser castigadas pelo facto de terem vivido muito acima das suas possibilidades, continua a render e a justificar todas as atrocidades perpetradas pelo governo PSD/CDS.

Bastaram dois anos de governação para transformar a ficção em realidade: agora, sim, a esmagadora maioria do povo português já não consegue (sobre)viver, porque está a ser espoliado de toda e qualquer possibilidade para tal. E olhem que deu muito trabalho chegar aqui!

Foi preciso recorrer a meia dúzia de mentes obscenas, desavergonhadas e sem escrúpulos, para congeminar incontáveis roubos, ilegalidades, mentiras, pretextos e bodes expiatórios.

Mas, pronto, a missão está em vias de chegar ao fim: falta, apenas, garantir a destruição do Estado, sob a capa da sua reestruturação. Para este efeito, nada melhor do que culpar o Tribunal Constitucional por ter cumprido o seu papel: afirmar que a decisão de sonegar o subsídio de férias aos/às trabalhadores/as do sector público e pensionistas era inconstitucional. 

Ok. Esperem aí que nós já vos tramamos… Estavam a receber o subsídio de Natal em duodécimos, não estavam? Pois, a partir de agora, passam a chamar-lhe subsídio de férias! E isto é só o começo de um guião de terror e loucura que ninguém sabe onde poderá acabar.

Cá para mim, um dia destes, acordamos com a notícia de que, afinal, estamos mas é a receber, mensalmente, o subsídio de desemprego… Ora, acontece que, neste país insano, existe uma Região Autónoma chamada Açores, governada pelo Partido Socialista e satisfeita com a referida decisão do Tribunal Constitucional. 

Sendo assim, nada mais natural do que apelar ao Governo Regional para que, no estrito cumprimento das Leis, no exercício das prerrogativas autonómicas que possui e no respeito pela dignidade dos/as trabalhadores/as que tutela, pague, integralmente, o subsídio de férias, no próximo mês de Junho, ou seja, que pague o que é devido, a quem é devido, quando é devido.

A economia regional agradece e a boa saúde das contas públicas justificam-no. É que mesmo as formigas num carreiro podem andar em sentido contrário…