E nós a ver o dinheiro mudar de bolsos...

O Tribunal de Contas revelou, na semana passada, através de um dos seus relatórios, que o Governo da República deu, em benefícios fiscais, às grandes empresas do país, o valor de 1.200 milhões de euros.

Como curiosidade, a Jerónimo Martins SGPS, SA - a holding de Soares dos Santos, dona do Pingo Doce - recebeu cerca de 82 milhões de euros, em benefícios fiscais. Lembremo-nos de que foi a sede desta holding que Soares dos Santos deslocalizou de Portugal para a Holanda, fugindo ao pagamento de impostos no país.

Afinal, para os grandes o crime compensa!

Este relatório vem a público no mesmo mês em que, em casa dos/as funcionários/as públicos/as, se procura novo ‘furo no cinto’, mais apertado, com o corte de 10% nos salários. E os/as reformados/as que recebem acima dos 600 euros, vêem o governo PSD/CDS aprovar um orçamento rectificativo que aplica a contribuição extraordinária de solidariedade – CES - a todos/as, independentemente se provêm do público ou do privado.

Com o CES, já não são só os reformados do sector público que sofrem, mas todos. Aliás, um recente estudo mostra que, em dois anos, os salários do sector privado desceram 11%.

Se somarmos as verbas que o Governo arrecada com o CES dos reformados, mais os 10% de corte nos salários do sector público, fica aquém dos 1.200 milhões de euros que ofereceu, em benefícios fiscais, às grandes empresas.

Afinal, a crise não é para todos!

Estes benefícios fiscais vão aumentar os lucros destas empresas, logo, os accionistas vão ser renumerados com mais dividendos. Na prática, é como aconteceu nos Açores, com a EDA, há um ano: o corte nos subsídios dos trabalhadores engordou os dividendos que a Bensaúde arrecadou.

Mas esta vergonhosa política não se fica por aqui. Dados do Instituto de Segurança Social dos Açores demonstram que, por alteração dos critérios, impostos pelo Governo PSD/CDS, nos Açores, no ano passado, 268 idosos perderam o complemento solidário para idosos e 540 pessoas perderam direito ao rendimento social de inserção. Estou a falar das únicas pessoas deste país que não têm direito ao sigilo bancário.

Rigor, sim, mas sempre contra os mais pobres!

Vejam a diferença com o Sr. Soares dos Santos: lesa o Estado e, como prémio, ganha 82 milhões de euros.

Esta é a verdadeira face da política de classe do Governo PSD/CDS: a protecção dos grandes é feita à custa de quem vive ou viveu do seu trabalho.

Sendo os Açores a região do país que tem uma pobreza estrutural mais acentuada, estas medidas sobre os idosos e beneficiários do RSI é mais um agravamento da sua situação.

Por isso, o aumento, em 15 euros, do complemento regional de pensão e a implementação do Rendimento Social dos Açores - propostas avançadas pelo BE/A -, são cada vez mais uma necessidade e uma urgência, para a coesão social da Região e para a sua economia.

Não é possível! - diz-nos o Governo Regional - já fazemos o máximo. E se eu insistir que o aumento, em 15 euros, para o complemento regional de pensão custa tanto como a derrapagem nas obras da escola da Ponta da Garça? Dinheiro saído dos cofres públicos para bolsos privados.

Afinal, Sr. Presidente do Governo Regional, a sua política, às vezes, parece-se muito com a do PSD e CDS…