Falta um golpe de asa!

Os Açores necessitavam, hoje, de ter uma elite económica, política e cultural, ambiciosa, virada para o futuro, capaz de agarrar as oportunidades que batem à nossa porta, projectando estas Ilhas para um desenvolvimento sustentável e com paradigmas sociais avançados.

Infelizmente, não se vislumbra tal desiderato.

Do ponto de vista económico, a burguesia açoriana prefere - na esteira, aliás, da sua congénere nacional - continuar a viver das rendas do Estado ou da Região, aspirando (quanto muito) à acumulação de capital, através de processos de privatização de serviços regionais que lhe assegurem a sua continuidade, com as rendas desses serviços, pagos pelo erário público.

Do ponto de vista político, prefere prosseguir a sua indigência, mantendo-se como refém dos interesses norte-americanos. Manter, a todo o custo, a Base das Lajes, não é mais do que tornar-se importante aos olhos dos ‘grandes centros’, à custa da sua mais virtual do que real importância política, como defensora dos interesses de uma grande potência. No fundo, assegurar as costas quentes, abjurando o sentimento de orfandade a que se habituou.

A maioria desta elite vive e desenvolve as suas políticas para servir estes interesses, porque é parte deles e, ao mesmo tempo, repositório ideológico desta vivência.

O futuro dos Açores precisa de se libertar de tal fardo.

Um fardo que leva à resignação, perante a inqualificável entrevista que o Ministro Rui Machete deu, no passado fim-de-semana, a um jornal regional. Nela, todo o pensamento do ministro (desde sempre alinhado com os interesses americanos) fica claro.

Os apetites de domínio do mundo, pelo imperialismo americano, não podem, em caso algum, ser postos em causa - mesmo que isso seja contraditório com os interesses do país e, em particular, dos Açores. Toda a lógica deste pensamento se alicerça no que convém (ou não) aos norte-americanos.

Perante a decisão de ‘adormecer’ a Base, quer a administração americana, quer os governos da República e Regional, têm de manobrar para não perderem a cara, face às suas populações.

E, então, como sugere o Ministro, talvez seja implantada, nas Lajes, uma plataforma logística para o Programa Alimentar Mundial.

Eureka! Grande ideia! Mas vamos lá, então, descodificar a hipótese.

O Programa Alimentar Mundial é, nem mais, nem menos, do que um projecto gerido, na prática, pelos grandes oligopólios produtores de alimentos, onde surge no comando a nossa conhecida “MONSANTO”. Esta empresa, entre outras, é uma peça do domínio do mundo, por parte dos norte-americanos, na área da alimentação. Como é evidente, noutras áreas, temos outras empresas. E todas elas fazem parte de um puzzle, onde a máquina de guerra é uma peça.

Resultado, para os Açores e para as Lajes: - a Base continua em ‘adormecimento’, mais ou menos lento; entretanto, metem-se, lá, uns armazéns de produtos transgénicos, que dão trabalho a algumas dezenas de portugueses.

Perante esta infâmia, continuo a perguntar: - quando é que há coragem, para colocar a nossa posição estratégica (aérea e marítima) e as riquezas do nosso mar, ao serviço do nosso desenvolvimento, em vez de continuarmos como ‘barriga de aluguer’?

Senhor Presidente do Governo Regional, qual a sua resposta a esta pergunta?