Na gíria popular, o feijão-frade é conhecido por ter duas caras. Sem ofensa para o vegetal, podemos dizer que estamos na época do “feijão-frade”.
Ouvimos, há poucos dias, Passos Coelho afirmar que estava na hora de combater as desigualdades, no país. E porquê? Porque estamos a um mês de eleições. Nada disto é para levar a sério, nem a mais simples vírgula do seu discurso…
O mesmo Primeiro-Ministro que, no mandato que agora cessa, conseguiu criar todas as condições para que os ricos ficassem mais ricos e os pobres ainda mais pobres, vem agora com esta conversa. Num país onde, por obra do Governo PSD/CDS, um/a em cada cinco portugueses/as ganha o salário mínimo - facto recorde, em tempos de democracia. Num país onde, na última legislatura, o salário médio baixou 300 euros. É preciso ter muita lata para, agora, vir prometer o combate às desigualdades!
Contudo (e, infelizmente), a gíria popular não se aplica só à coligação de direita.
Os Açores estão inundados com cartazes, cuja frase é significativa: "Confiança de Sempre". A verdade é que o Partido Socialista "sempre" nos habituou a dizer uma coisa e a fazer outra. De facto, nestas eleições, não foge à regra.
Afirma que vai fazer uma outra política, que vai combater a austeridade mas, como “sempre”, o que diz e o que se prepara para fazer são coisas bem diferentes.
Jura defender a contratação coletiva, mas vai aplicar o despedimento por consenso. Quer isto dizer que qualquer patrão pode chegar ao pé do trabalhador e dizer-lhe: ‘Dou-te mais "algum" e vais para o desemprego’. Que força tem o/a trabalhador/a para se rebelar? É claro que pouca ou nenhuma.
De uma penada, o PS não só destrói a contratação coletiva, como ataca a Constituição, ao tornear a proibição de despedimento sem justa causa - coisa que, aliás, a direita não conseguiu alcançar.
Para dinamizar o mercado interno, o PS propõe-se baixar a TSU aos trabalhadores, por forma a que estes tenham mais algum dinheiro, no fim do mês. Com esta proposta, tira dinheiro à Segurança Social. Resultado? As pensões actuais ficam em perigo e as futuras serão, inevitavelmente, diminuídas, porque os/as trabalhadores/as (no passado, que é hoje) descontaram menos.
Mais uma vez, tira aos trabalhadores para, eventualmente, atacar um problema.
A habilidade é interessante mas, no concreto, faz como o PSD e o CDS, os quais pretendem o plafonamento dos descontos para, por um lado, engordarem a banca e, por outro, diminuírem as pensões.
Os caminhos são diferentes, mas o resultado é o mesmo: os trabalhadores são prejudicados!
Num país com tantas desigualdades, porque não se lembram eles de aumentar o salário mínimo?! Assim, melhoravam o poder de compra, potenciavam o mercado interno, aumentavam os descontos para a Segurança Social e contribuíam, de facto, para a diminuição das desigualdades sociais.
Mas não! Por isso, a conclusão é só uma: com as políticas de uns e de outros, quem trabalha é “sempre” espoliado, ora depressinha, ora devagarinho.
Escolher entre dois truques mal-amanhados não representa nenhuma alternativa. Ainda por cima, quando os resultados negativos são os mesmos e as causas próximas também: as condições impostas pelo Tratado Orçamental e a maldita da Dívida, que não para de aumentar.
A Alternativa está noutro caminho. Ousemos abrir-lhe a porta!