Estórias de milhões

Trago-vos duas estórias, daquelas verdadeiras, mas que têm passado despercebidas pela opinião pública da nossa ilha, e que ilustram bem o que se vai fazendo por cá, com o dinheiro de todos nós.Realço que estas duas estórias não têm nada a ver uma com a outra.

A primeira destas estórias diz respeito ao mega-projeto da autarquia angrense, a construção de uma central de valorização energética, ou por outras palavras, uma incineradora, e que é sempre apresentada como mais uma das inevitabilidades às quais teremos de nos habituar, mesmo que existam outras alternativas para reduzir a quantidade de lixo que é depositado em aterro.

Estamos perante um projeto que em Dezembro de 2012 custaria, no mínimo, 26 milhões de euros, em Agosto de 2013, já custaria 30 milhões de euros e que, por agora, já depois das eleições, foi anunciado, publicamente, que poderá atingir os 36 ou 40 milhões de euros.

Teremos uma autêntica fábrica de incineração que para ser viável terá de processar, no mínimo, 20.000 toneladas de resíduos por ano. Ora, segundo o próprio Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, um terço dos resíduos recebidos serão incinerados. Se, atualmente, todas as ilhas do grupo central produzem 57.000 toneladas, então podemos contar com 19.000 toneladas por ano para incinerar, ou seja, será muito difícil obter resíduos que garantam o funcionamento desta incineradora, até porque, no futuro, teremos menos população e, por isso, menos lixo, sem considerar que se nos comprometermos com uma política ambiental responsável, será dada prioridade à prevenção da produção de resíduos, o que resultará, e ainda bem, na sua redução.

A perversidade da solução inevitável encontrada para os resíduos é que o seu sucesso depende do fracasso na redução da produção de resíduos, assumida e reforçada, recentemente, pelo PEGRA. Por isso, é paradoxal que o Diretor Regional do Ambiente considere que a instalação de duas incineradoras na Região seja compatível com a prioridade dada à redução de resíduos.

Agora, outra estória que não fez noticia na nossa ilha. Então, não é que o Governo Regional declarou, este ano,  o interesse regional (PIR) de um projeto, no valor de 10 milhões de euros, promovido por uma empresa constituída em 2012, com um capital social de 5000€ (dividido em 3 quotas), projeto esse que prevê a instalação de painéis solares em edifícios públicos da Região e a produção de pellets (uma espécie de aglomerado resultante de desperdícios de madeira que é um combustível muito bom para arder)? Será este mais um exemplo do tal empreendedorismo que nos salvará do desemprego?