Nada pode ficar como antes

Há anos e anos e anos que andamos todos – sociedade civil, partidos, trabalhadores e governos -, cada  um para o seu lado, clamando (embora com tons, passividades e reivindicações diferentes), pelo direito da Região Autónoma dos Açores a um Centro Regional da RTP capacitado para prestar o serviço público de rádio e de televisão a que está obrigado.

Pelo caminho (inútil e perigosamente longo), já fomos ameaçados/as de tudo um pouco e também já existiram, por cá, propostas para todos os gostos. No entretanto, tudo foi ficando como estava, ou seja, tudo foi piorando insuportavelmente, no Centro Regional: condições de trabalho, instalações, equipamentos, etc, etc, etc.

Chegámos, então, agora ao momento em que, ou muita coisa muda, de facto, ou o serviço público de rádio e televisão, nos Açores, colapsa, definitivamente.

Pela vossa parte, caros/as leitores/as, não sei mas, pela minha, fiquei à espera dos resultados (várias vezes prometidos e outras tantas adiados) de um Grupo de Trabalho constituído, há cerca de ano e meio, por representantes da Região, da República e da RTP.

Esperava-se – eu, pelo menos, esperava – que este Grupo fosse capaz de consensualizar, no mínimo: que conteúdos devem fazer parte do serviço público de rádio e televisão, numa região com as características particulares dos Açores; quanto custa assegurar estes conteúdos informativos e de programação; quantos/as trabalhadores/as são necessários para o garantir; quem paga, quanto e como, os referidos custos.

O certo é que este Grupo de Trabalho evaporou-se, sem que tenha trabalhado alguma coisa que se visse ou ouvisse. Talvez, também, por isso, o senhor ministro Poiares Maduro deslocou-se, há dias, aos Açores, com duas folhinhas, no bolso, sem qualquer tipo de assinatura, as quais (na sua douta opinião) configuravam o modelo de reestruturação do Centro Regional dos Açores da RTP, dadas as condicionantes financeiras e economicistas a que a Casa-Mãe está obrigada.

Quem é que é dono destas folhinhas: a administração da RTP ou o ministro que a tutela? Não se sabe! Onde está o projecto de serviço público da rádio, televisão e plataformas multimédia para os Açores? Esqueceu-se dele em Lisboa, por certo!

Estas folhinhas pretendem consubstanciar a proposta veiculada por Vasco Cordeiro, durante a campanha eleitoral das últimas eleições regionais? Só eles dois é que sabem!

Conclusão óbvia: o senhor ministro trouxe, nas mãos, duas folhinhas com nada e coisa nenhuma. Mas trouxe, claramente, uma intenção mal disfarçada pelas folhinhas em causa: pôr em cima da mesa o despedimento de trabalhadores/as do Centro Regional, dando continuidade à estratégia de desmantelamento do dito Centro, há muito concebida mas sempre negada: lá como cá.

Se estamos todos/as de acordo – como os discursos mil vezes repetidos fazem crer - de que o serviço público de rádio e televisão dos Açores é um dos pilares fundadores e dinamizadores da nossa Autonomia, então, das duas uma: ou os órgãos de governo próprio da Região se unem, na defesa daquilo que é essencial, nesta matéria (desde logo, na identificação do que é, afinal, essencial...), ou seremos cúmplices de mais um golpe, no exercício e no usufruto da Democracia, na nossa Região.

No meio da nossa escolha, estão 134 trabalhadores/as e famílias que, neste momento, olham para o dia de amanhã sem qualquer tipo de garantia. É isso que queremos?