O princípio do fim da zona euro por estadistas sem memória!

Começo por fazer uma justa e honrosa menção à capacidade de resistência e exercício da democracia que o povo grego nos demonstrou ser capaz durante todo este processo de brigas entre vilões e pobres dentro da União Europeia. Um processo em que nunca houve verdadeira intenção de negociar o que quer que fosse, mas sim impor a vontade do mais forte, mesmo sendo essa vontade intensamente e fatalmente absurda!

Nas palavras do prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, na sua coluna no The New YorK Times, há duas semanas atrás, lemos: “É agora claro, ou deveria ser claro, que o programa grego estava destinado ao fracasso sem um significativo alívio da dívida; independentemente de quanto se esforçam os gregos, a austeridade iria encolher o PIB mais rapidamente do que reduziu a dívida em comparação com o cenário base, pelo que a situação da dívida estava condenada a piorar mesmo que a tentativa de equilibrar o orçamento impusesse grande sofrimento”.

Sob ameaça da expulsão do euro, impos-se um acordo que trouxe de volta o monstro da austeridade ao povo grego. E a restruturação de uma dívida impagável, como fica?

Paul Krugman, no mesmo artigo, diz que “há uma lição mais geral sobre a Grécia que é relevante para todos nós - e não é a habitual sobre deixarmos de ser despesistas para não nos transformarmos na Grécia. O que nós aprendemos, em vez disso, é que a austeridade fiscal adicionada a uma moeda forte é uma mistura altamente tóxica: a austeridade fiscal deprime a economia e empurra-a no sentido da deflação (…) o resultado não é só uma depressão e deflação, mas, muito provavelmente, também um falhanço em reduzir o rácio da dívida”.

Ora, vejamos o caso da Grécia e de Portugal. A dívida pública da Grécia, em 2010, era 120% do PIB, hoje corresponde a 180%, o mesmo acontece no nosso país: a dívidaportuguesa em 2011, representava 93% do PIB, e hoje ronda os 130%.

Mas o desemprego, a pobreza e as desigualdades sociais aumentaram de modo exponencial quer num e noutro país, levando ambos a um retrocesso civizacional de décadas.

A senhora Lagarde já veio dizer que se não houver restruturação da dívida da Grécia o FMI fica de fora do famigerado resgate! Uma restruturação contra a vontade do senhor Schäuble e do senhor Passos Coelho, e muitos outros senhores/as, que têm medo da restruturação das dívidas impagáveis, contra o modelo austeritário que vendem como inevitável. Mas não houve alternativa para a Alemanha com o Acordo de Londres, de 1953?! Perdão de dívida em 50%, reescalonamento do prazo da restante em 30 anos e condicionamento das prestações à capacidade de pagamento do devedor?!

Muita tinta já correu e muita vai correr, muito já mudou e muito ainda há-de mudar, a verdade é que depois do processo Grécia, nada voltará a ser o mesmo e quem não tinha percebido ficou a perceber, vivemos num tempo de estadistas sem memória e sem visão de futuro do projeto europeu. A União  Europeia do Wellfare  State  nunca chegou a alcançar o que se propôs  ser no papel -  Uma união de países para o bem-estar de todos os povos – e entretanto já assistimos  ao que alguns entendidos da união monetária e económica designam por “o princípio do fim da zona euro e dos supostos ideais europeus de integração e solidariedade entre povos”!