Os autocolantes de tom alaranjado vivo e o famoso hino, do então PPD, repetido até à exaustão, nas caravanas que percorriam, incessantemente, todas as freguesias e todo o frenesim das campanhas eleitorais da década de 80 que seduziam a criançada que trocava calendários das duas cores mais apelativas do cenário partidário, nos pátios da escola, enquanto entoavam o 'prá frente Portugal' de uma campanha presidencial tão distante, mas com protagonistas que ainda hoje influenciam a política nacional. Estas são as imagens e sons que constituem a recordação mais antiga que eu tenho da atividade partidária.
Todos ficavam «colados» à televisão, ainda a preto e branco, como se de um jogo de futebol se tratasse, a aguardar os resultados das eleições que chegavam a conta-gotas, num suspense que rivalizava com os últimos minutos dos jogos emocionantes, da altura em que o Benfica chegava às finais europeias.
Percorridas algumas décadas, será que o(a)s açoriano(a)s têm outra forma de não só conceptualizar como de exercer os seus direitos políticos? Estaremos, porventura, mais interventivos e exigentes? Será que ‘mastigamos’ tudo o que nos é prometido como se a atividade política e partidária fosse um ‘prometório’, principalmente, em tempo de campanha eleitoral?
Vou mais longe e questiono. Será que os opinion makers cá do sítio pensam a política de outra forma? Ou será que se limitam a elaborar odes à «fina flor» do grande partido do arco do poder regional? A tal «caderneta», muito numerosa com «cromos» muito antigos e repetidos até à exaustão e que há muito espera para 'ir ao pote' como se fosse a grande salvação da governação.
A lógica do ping-pong governativo no país é ainda mais condensada na Região e provoca-me uma forte sensação de deja vu. Então não foi, no Verão passado, que as pessoas fartas do poder do costume trocaram-no pelo poder de sempre que prefere alimentar a oligarquia estabelecida, em vez de dignificar quem trabalha? Estarão satisfeitas?
Enquanto o primeiro-ministro, Passos Coelho, defende que o desemprego é uma oportunidade, Berta Cabral anuncia, em grandes outdoors, que vai criar oportunidades. Pelo menos, apesar de utilizarem uma lógica própria, é sincera naquilo que promete, pelo menos, no que diz respeito às políticas de emprego, ou melhor, de desemprego.
Há também as «carochinhas» que, da sua varanda, aceitam casar com todos, logo que isso lhes traga algum poder.
É verdade que as cadernetas mais escolhidas são as ‘laranja’ e ‘rosa’, pinceladas de ‘azul e amarelo’ e somos levados a acreditar que a democracia é comparável a uma troca qualquer de «cromos» tal como fazíamos nos recreios da escola, só que em vez das estampilhas, trocam-se promessas, sem olhar à congruência com que são feitas.
Para alguns opinion makers das cadernetas bolorentas da década de 80, arrumadas lá no sótão, a política é ume exercício ‘retro’ (não confundir com retro-futurista, porque se trata de um conceito muito chique), em que todos nascemos ‘laranja’ e ‘rosa’. Só porque sim. Porque isso das ideologias não serve para nada, a não ser para incomodar as ‘cabecinhas’ do pessoal com preocupações inúteis sobre idealizações do mundo, em que vivemos e esquecem-se, infelizmente, que a ideologia é a expressão macro das opiniões e das atitudes. Quem menospreza a ideologia, menospreza a opinião e é capaz de culpar a democracia por termos chegado, onde chegámos.
Se formos mais críticos, exigentes, participativos e se não tivermos receio de sermos políticos, então até poderemos nascer ‘laranja’ e ‘rosa’, uns mais pincelados de ‘azul’ e ‘amarelo’ do que outros, mas depois alguns crescem…