Respirar livremente

A nossa área de esquerda, virada para as lutas sociais, sempre defendeu em primazia a função pública e adjacentes, não dando a justa atenção merecida aos trabalhadores da privada, os quais são muito mais explorados e vítimas de cargas horárias mais pesadas, para não falar da enorme precariedade que são vítimas.

Na privada, o patrão existe de forma presencial, na pública há muito mais anonimato. As probabilidades de despedimento são claramente mais fortes no primeiro caso.

Vem isto a propósito do argumento que o setor privado não faz greves, nem luta pelos seus direitos. A realidade é outra, os seus postos de trabalho estão constantemente em causa, trata-se da sua manutenção.

É preciso dizer sobre os operários da construção civil, muitos deles sem subsídios de férias ou de natal, dos pescadores sem contratos de trabalho, dos trabalhadores do comércio cumprindo mais de 40 horas semanais, das caixas dos hipermercados sobre-explorados e da enorme massa privada ganhando o salário mínimo.

Sabemos que no atual sistema capitalista há uma tendência geral para o empobrecimento e proletarização de todos os extratos sociais, contudo a crise que vivemos faz-se sentir muito mais nessas classes frágeis, do que noutras que já conquistaram outro estatuto, por isso podem resistir melhor.

A solução foi dada por Marx, “proletários de todo o mundo, uni-vos”. De facto, quando se mencionar lutas sociais, não se deve omitir ninguém. Pelo contrário, deve-se inquestionavelmente estar também solidário com os trabalhadores da privada, cujo potencial é enorme.

É premente rompermos com o medo que se apoderou de nós, os receios das represálias e dos processos. Temos de ser livres muito para além da palavra liberdade.

Nortearmos os nossos comportamentos profissionais pelos valores da justiça e igualdade de direitos.

Como pode quem trabalha, ser pobre?

Há que haver dignidade e justo usufruto no trabalho, com menos mais-valias por parte da entidade empregadora. Temos necessidade principalmente de mais equilíbrio social e melhor distribuição da riqueza, rejeitando o egoísmo e fomentando a solidariedade.

Todos(as) são necessários e úteis ao bom funcionamento duma sociedade, só que geralmente uns vão bem, outros mal, as injustiças respiram nos pulmões todos os dias…