Os recursos naturais são o maior património, o ouro da Região Autónoma dos Açores. Todos os apregoam mas, muitas vezes, não o valorizam como tal.
O Governo Regional, não só não adota medidas concretas e eficazes de manutenção desse tesouro, como muitas das vezes intervém, ou autoriza intervenções que em nada valorizam esse património natural, ou até o degradam:
Podemos relembrar “mil e um exemplos”: a eutrofização das lagoas das Furnas e das Sete Cidades, o atentado ambiental da Fajã do Calhau – em pleno parque natural destruiu-se parte da montanha para construir uma estrada, iniciada em 2006, que ainda hoje não está acessível ao comum dos cidadãos e que já custou centenas de milhares de euros ao erário público –, as, ainda, lixeiras a céu aberto na Reserva do Biosfera das Flores, as várias intervenções de “requalificação” em meio natural e que se traduzem em betão, etc.
Ao longo dos últimos anos tem-se feito inúmeras campanhas publicitárias no setor do turismo, muitas delas improficuamente rentáveis para a economia e para as pessoas da Região, se contabilizarmos o custo versus resultados.
A área do turismo de natureza que deveria ser de excelência dadas as nossas maravilhas naturais, mas que devido ao grande investimento, errado, da Região em grandes projetos de betão – muitos hoje fechados ou abandonados, como o casino ou os inúmeros hotéis sem clientes – e à falta de uma boa gestão pública e manutenção do património natural, está, ainda, muito pouco desenvolvida.
Os projetos de turismo rural, salvo algumas e raras exceções, ainda estão longe de ser de excelência nos Açores e em algumas ilhas é quase inexistente.
Aliada, à falta, significativa, de empreendimentos de turismo rural ou de habitação, temos a escassês de transportes públicos, que permitam uma deslocação eficaz com menor pegada ecológica, uma rede local de comércio de produtos regionais e, quase a parecer caricatura, muitos dos percursos pedestres das nossas ilhas estão fechados, nunca abriram ou estão em más condições.
Após longo período de falta de entendimento entre tutelas, chegou ao plenário da ALRA um regime jurídico dos percursos pedestres, em que a tutela dos mesmos fica entre o Turismo, Ambiente e Agricultura e Florestas. Esperamos que finalmente se valorize e cuide de tão valioso património regional.
Mas como a mudança não se faz apenas por decreto deveria, finalmente, ser criada uma verdadeira equipa de técnicos no terreno –, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, em que se explorou a boa vontade de precários, que sendo em número parco não poderiam fazer milagres –, que contribua para a interligação entre os diversos serviços regionais e a comunidade, que uniformize práticas de atuação, de modo a valorizar e cuidar do que se tenta vender como excelente, mas que não tem tido o devido investimento da Região.
A não acontecer, rapidamente, um sinal de mudança de paradigma no turismo regional, só resta legitimamente questionar: afinal qual é a estratégia deste governo no setor do turismo. Existe?!
É urgente que os investimentos neste setor sejam melhor direcionados, porque o nosso “ouro” necessita de ser valorizado e protegido. Essa é uma das responsabilidades, na gestão da coisa pública, para com as gerações presentes e vindouras.