Voto de louvor às nossas elites

Solenidades sabidas, sempre determinadas, possuidoras da razão que se ajoelha aos vossos pés. Só vós sabeis, graças à vossa eterna sapiência, fruto da vossa linhagem tingida de laranja e rosa, o melhor para todos nós.

O turismo é o vosso próximo messias. Como não poderia deixar de ser, a riqueza gerada será sumptuosa, assim como os meios para a alcançar.

A vossa eterna e plena sabedoria, sempre repleta da razão que vos venera, aconselha a plebe a depositar a sua esperança, sentimento tão popular e apaziguador, na construção de grandes hotéis luxuosos de muitas estrelas e casinos com roletas douradas, resultado do mel da abundância do financiamento público que jorra por entre os vossos magnânimos interesses, sempre acertados e garantidos.

Nada temeis e tudo se justifica para que a razão nunca vos abandone, pois se os ricos e famosos do mundo grande não vos enchem os hotéis e o casino é porque os voos low-cost ainda cá não chegaram e, se não chegaram é porque ninguém, com aquilo que entendem ser juízo político, untou, devidamente, com o mel da abundância da plebe, as companhias aéreas low-cost que farão o milagre da multiplicação dos voos e da redução das tarifas aéreas.

Digníssimas excelências, habituadas à resplandecência das vossas ideias salvíficas para a Economia das nossas nove ilhas, ou da sua própria economia, deliciai-vos com a vossa clarividência sobre o futuro do turismo e reivindicai mais ligações aéreas entre a Plaza de Toros De Las Ventas e os nossos campos de golf, onde o turista poderá disfrutar de um produto nunca visto, em parte alguma do universo, o toiro a pastar (ou a ser toireado) no green!

Um dia, com toda a certeza, o toiro no green será um empreendimento com honra de interesse regional e o mel da abundância jorrará para que o devaneio se torne real, tão real como o soberano do nosso país vizinho. Assim, se cumprirá, mais uma vez, o destino, sempre esquecido, dos fracassos do nosso regime e das nossas elites, sempre certas e determinadas, que nos fazem esquecer que temos uma estalagem oculta na Serreta, que já tivemos um hotel 5 estrelas (Monte Palace), que temos um casino abortado, hotéis abandonados e parte de uma cidade património mundial devoluta, por obra e desgraça dos nossos sábios sabidos ou por obra e graça da alta ganância que joga no lucro garantido da especulação.

Se tudo falhar, como se tal fosse possível, tereis sempre a possibilidade de atribuir toda a culpa e responsabilidade à ilha grande, a um cais e terminal de cruzeiros que deveria ter sido construído e que nos salvaria da desgraça ou à generalidade da tal classe política, incluindo quem está sempre disposto e disponível para vos servir tal como a razão vos serve, porque, afinal de contas, a culpa nunca pode ser vossa, pois estais repletos de uma elevada consciência cívica em prol dos vossos apetites vorazes por um lugar privilegiado para puderem usufruir do mel da plebe.