Zuraida, um cidadão português?!

Lembro-me de que era, mais ou menos, assim: - “Cidadão” – substantivo comum, género masculino, singular; “Cidadã” – substantivo comum, género feminino, singular. Depois, pediam-nos que construíssemos uma frase que começasse por ‘Zuraida’…e, então, nós escrevíamos: - “A Zuraida é uma cidadã”. Certo! – dizia a professora. Agora outra que comece por ‘Pedro’…E era: - “O Pedro é um cidadão”. Certo! – dizia a professora.

Pois…

Mas havia sempre um/a menino/a que, ou não tinha percebido a coisa ou fazia questão em irritar a professora, e escrevia: - “A Zuraida é um cidadão” e “O Pedro é uma cidadã”…Erradíssimo! – dizia a professora. Porque se ‘Zuraida’ é um substantivo próprio do género feminino, ela só pode ser uma ‘cidadã’; e se ‘Pedro’ é um substantivo próprio do género masculino, ele só pode ser um ‘cidadão’. Para quem já tinha percebido, como é que a gramática funcionava, até apetecia dizer: - “Elementar, meu caro Watson”…

Pois…

Se, por acaso, a professora pedia que fizéssemos o mesmo exercício, com o substantivo neutro ‘Bilhete de Identidade”, as frases correctas eram assim: - “A Zuraida tem um Bilhete de Identidade” e “O Pedro tem um Bilhete de Identidade”... Certo! – dizia a professora. E o dia de escola continuava, alegre e pacífico, porque os géneros estavam onde deviam estar: de um lado, as meninas e os substantivos femininos e, do outro lado, os meninos e os substantivos masculinos! Tudo arrumadinho e tudo a fazer sentido.

Pois…

Eis se não quando, a professora, sem que nada o deixasse prever, começou a armar a maior das confusões e a baralhar aquilo que, antes, tinha feito tanta questão de distinguir! Começou por nos dizer que o masculino plural identificava os dois géneros, ou seja, ‘OS’ professores, ‘OS’ médicos, ‘OS’ aviadores, ‘OS’ agricultores, ‘OS’ advogados, ‘OS’ meninos, por exemplo, também significavam ‘AS’ professoras, ‘AS’ médicas, ‘AS’ aviadoras, ‘AS’ agricultoras, ‘AS’ advogadas, ‘AS’ meninas…

Huuummm… Aqui há gato – pensei eu, cá com os meus botões! E havia e, pelos vistos, continua a haver.

Pois…

E, como se tudo isto não chegasse, ainda nos ensinou que a letra grande inclui os meninos e as meninas, os homens e as mulheres, ou seja, quando dizemos ‘Homem’ estamos, também, a dizer as mulheres… Hã?! Ó professora, e quando dizemos ‘Mulher’ também estamos a incluir os homens? – perguntei, estupefacta. Nem pensar! – respondeu. Só o homem, com agá grande, diz as mulheres. O contrário é um disparate!

Pois…

Voltei a recordar todo este anacrónico percurso, no dia em que me puseram, nas mãos, um ‘Cartão de Cidadão’, ao mesmo tempo que me mandavam pôr uma cruz, no quadradinho que dizia ‘sexo feminino’. E a dúvida de há tantos anos atrás assaltou-me, novamente: - quem põe a cruz no quadradinho que diz ´sexo masculino’ recebe um ‘Cartão de Cidadã’?!

Caros/as Leitores/as, eu bem sei que o Mundo anda todo do avesso e que até ‘a terra gira ao contrário e os rios nascem no mar’. Por isso, tenho uma proposta ‘muito à frente’ para fazer a todos/as aqueles/as que estão indignados/as, com um futuro ‘Cartão de Cidadania’. Proponho que se crie, antes, um ‘Cartão de Cidadã’ para todos/as, homens e mulheres…

Assim com’ássim, se nós andámos, durante os últimos 10 anos, com um ‘Cartão de Cidadão’ no bolso, certamente que os homens não se importarão de andar, a partir de agora, com um ‘(…)de Cidadã’! Ah…e nós, mulheres, por gentileza, prometemos não rir demasiado alto!

Pois…