“Agora este!”

A recente apresentação do projeto de arquitetura das “piscinas termais” na Avenida Manuel de Arriaga, nas Furnas, deixaram-me a certeza de que o futuro não olha para traz, nem tão pouco para o lado!
A Povoação já esqueceu as suas piscinas que depois da inauguração não chegaram a abrir, porque a melhor “Arquitetura” não resgata o erro urbanístico, como nos referia o arquiteto Manuel Tainha nos seus “Textos de Arquitetura”.
Foi assim também, com a Estalagem da Serreta, na Terceira, ou com outras modestas arquitecturas, como o Hotel Monte Palace, o Hotel do Pico, as piscinas do Nordeste, ou até, desprovidas de arquitectura como o Aquaparque da Vila Franca.
Todas fruto da desadequação do investimento ao local, ao público interessado e à função, onde a disfunção de objectivos, inviabiliza a sua sustentabilidade económica.
As piscinas ditas “termais” implantam-se numa área verde do município, sensivelmente de nível, contida entre a Ribeira dos Tambores/Ribeira Quente a norte, e o morro do Parque de Campismo a sul, localização ímpar que lhe confere adequada implantação para as piscinas na referida plataforma, e os respectivos edifícios de apoio integrados no morro, que no respeito pela topografia local, os isenta de qualquer desadequação ao local.
Acontece que segundo a “ A Carta Hidrotermal das Furnas - localização das nascentes quentes e frias da freguesia das Furnas”, da autoria de Victor Hugo Forjaz e António Serralheiro, edição do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (1998), o local é desprovido de qualquer nascente de água quente, e até talvez por isso, na apresentação tenha sido referida a possibilidade de alimentação com água da rede pública.
Existe na realidade, ali próximo, do outro lado da ribeira, e referenciada naquela Carta Hidrotermal, a nascente denominada de Nova Água da Morangueira, com a temperatura de 38 graus, mas sem caudal adequado, recurso que por essa razão, não se julga apropriado para o efeito, e cuja localização, eventualmente, torna a sua captação abusiva.
Resta a captação/desvio da Ribeira, que aparentemente, tal como a água da rede pública não será “termal”, e cujo aquecimento e tratamento, quer de uma quer de outra, que mesmo para piscinas não termais, imporão manutenção e exploração, economicamente desajustadas.
O êxito das Poças da Dona Beija ou das Piscinas do Parque Terra Nostra, piscinas termais ali tão perto, incentivam infraestruturas semelhantes, mas que a descontextualização ambiental, na ausência de nascente com caudal suficiente, desaconselhariam, o que parece não ter sido o caso, ainda que a expectativa do concurso público de construção - concessão, o faça transparecer, constituindo mesmo, uma cautela.
Esquecendo a alimentação de água termal, e que a mesma se resolve (?), mesmo que não o seja, os custos de construção e exploração afiguram-se demasiado elevados, para uma amortização do investimento em prazo adequado, tal como aconteceu nas diferentes infraestruturas que inicialmente mencionei, e em tantas outras, que por isso mesmo, fazem parte integrante da manada de elefantes brancos que habita o arquipélago.
O caso das diferentes piscinas termais de diferentes ilhas, não deixa de demonstrar que face, e bem, às actuais exigências de qualidade e higiene, determinadas pela saúde pública, os custos de exploração e manutenção se tornam incomportáveis, quando não associadas, como complemento a outras infraestruturas de suporte.
Por isso, encontram-se encerradas as Termas do Carapacho na Graciosa, as do Varadouro no Faial, e são conhecidas as dificuldades de manutenção das da Ferraria em São Miguel, e conhece-se o fecho temporário, por contaminação, das Piscinas do Parque Terra Nostra, das Poças da Dona Beija e da Caldeira Velha, desaconselhando a captação a partir da ribeira.
O futuro tem que olhar para o lado!