Está tudo muito confuso, a precisar de férias, a começar pelo que falhou no hospital, que já não sei se foi o SADI, como dizem os técnicos, ou a SEIDI, como fazem crer os políticos, mas uma coisa é certa, fica assim mesmo, e não SAIDAKI.
Entretanto, na Assembleia discute-se se os foguetes, as roqueiras das festas fazem PUM-PUM, de acordo com a tradição, ou se passarão a fazer apenas FSS-FSS, como os foguetões que sairão de Santa Maria, que quando fizerem PUM, estará o caldo entornado.
Entretanto, sem que alguém se pareça preocupar, mas com foguetes de alguns, num alheamento generalizado, o turismo ataca em força e por todos os lados.
Repudiado em Barcelona, grande cidade com grandes infraestruturas, com manifestações sérias de desagrado dos residentes, que já impuseram o desaparecimento do Alojamento Local pelo prejuízo que lhes causa na sua qualidade de vida, por cá, sem regras que aludam à capacidade de carga de cada freguesia, de cada ilha, é bem vindo, com um crescimento de 660%, o que não poderá dar certo.
Os acontecimentos, a repulsa de Barcelona ou Veneza, poderiam pôr-nos de sobreaviso, de acautelar sobrecargas, de estudar as capacidades do território, de elaborar um POTRAA, digo eu.
A sobrecarga do que quer que seja, não aufere resultados satisfatórios, que queremos fazer acreditar que o são, e não há planeamento, seja ele qual for, sem regras.
Como podemos acreditar, e pior, desejar que uma freguesia tenha maior número de camas, de turistas, que residentes, que está no bom caminho do desenvolvimento e da sustentabilidade, quando conhecemos o desenho urbano do território e a perda da qualidade de vida das suas populações?
E como se pode afirmar que a sobrecarga não é penalizadora, se a experiência do turista for engrandecedora da sua estadia? E que há ganhos morais de desempenho, que acrescem ao salário, mas que não pagam despesas que o turismo fez disparar?
Uma das fábricas de tabaco, nas dificuldades que atravessa, negando o objeto da sua atividade, criou alojamentos que, sem fumo, lhe trarão algum retorno.
Parece um contrassenso, mas o turismo também é isto.
Como aquela experiência de se alojar na fábrica de tabaco poderá ser engrandecedora do turista, quando a expectativa da experiência impede uma boa cachimbada, e aquele odor para quem não fuma, um cheirinho de rapé, uma fumaça de cigarrilha, mascar tabaco, ou até mesmo um chá de folha de tabaco, ou o rececionista de bigode grisalho amarelo do fumo de tabaco, e por aí fora?
No centenário da visita de Raul Brandão à Madeira e aos Açores, que no próximo mês de agosto se comemora, retratada nas suas notas de viagem que constituíram “As ilhas desconhecidas”, que vale a pena reler, levar o livro para férias, e tomar atenção ao que então escreveu a propósito do turismo na Madeira, inexistente à época nos Açores:
... “Lucraram os negociantes e hoteleiros, afundam-se todos os outros numa abjeção que tem aumentado sempre. Cada vez se cava mais funda a separação entre as classes chamadas superiores e as outras. O que se faz neste país é um crime que havemos de pagar muito caro.”...
Raul Brandão escreveu isto cinquenta anos antes do 25 de Abril(!), há cem anos, e pese o “desenvolvimento” turístico das ilhas, mantemos a pobreza e a segregação social.
Teremos que lançar foguetes, uma boa mancheia, dos que fazem PUM-PUM-PUM, se a situação se alterar.
Tenham umas boas férias, e regressem de cabeça fria, porque há muito que fazer!