Angra sem árvores

 

Ao longo dos últimos dois anos, os angrenses assistiram ao abate sistemático de muitas das árvores da cidade.

Em Angra do Heroísmo, nem as árvores resistem à alegada inevitabilidade do seu abate, como única forma de reparar ou evitar o levantamento da calçada, por via do crescimento das raízes.

Mas até para a sã convivência entre as árvores e os passeios de calçada existem alternativas ao abate.

O BE, ao longo dos 2 últimos anos, chamou, publicamente, a atenção para a possibilidade de se podarem as raízes, de se utilizarem barreiras mecânicas para as redirecionar e, em alguns casos, de se proceder ao transplante. São alternativas que evitariam o abate deliberado.

A ação da autarquia foi irrefletida, pois mesmo quando plantaram novas árvores cometeram, quase sempre, os mesmos erros que ocasionaram o levantamento da calçada dos passeios. Não reservaram o espaço mínimo de caldeira e, em outros casos, não optaram pelas variedades mais adequadas à cidade.

Uma árvore sem espaço para absorver a humidade através das suas raízes, mais cedo do que tarde, levantará a calçada, pelo que deverá ser rodeada por um anel circular com uma dimensão mínima de 1 metro ao seu redor e livre de calçada.

Desafiámos a autarquia a apresentar o seu plano de arborização para a cidade, mas nunca obtivemos qualquer resposta, nem a oposição encetou grandes esforços para, pelo menos, devolverem as árvores à cidade e não será por repetirem, vezes sem conta, 'Monte Brasil', 'Monte Brasil', que as árvores crescerão no centro de Angra do Heroísmo.

São inúmeras as cidades com planos de arborização. Em Portugal, temos a Amadora e são diversas as cidades europeias e brasileiras que também o têm. Todavia, para a nossa autarquia, trata-se de algo menor ou mesmo desnecessário e, aparentemente, para as candidaturas do PS, PSD/CDS é um pormenor sem qualquer importância.

As árvores são os depuradores naturais de uma cidade e não um mero acessório estético. Estamos pois, perante um contra-senso de uma cidade património mundial, enterrada em trânsito automóvel que, nem uma vez por ano, respira e que, agora, nem tem depuradores. Motivo para afirmar que Angra deixou de ter um dia sem carros, para ser uma cidade sem árvores.

Esqueceram o dia sem carros e lembraram-se de cortar as árvores. Porque ‘sim’ e porque as árvores não votam.

Infelizmente para a nossa cidade, dois anos a cortar árvores dá direito a prémio de 'árvore sem voz'.