Ganhar votos, numa campanha eleitoral, poderá ser fácil, bastará para tal seguir um modelo de desenvolvimento populista, se é que se poderá considerar 'desenvolvimento' toda e qualquer lógica demagógica e desmemoriada de qualquer coerência.
Nas próximas eleições autárquicas seria fácil conquistar votos com propostas espetaculares (com direito a fogo de artificio e distribuição de sacos de cimento, micro-ondas e frigoríficos), numa competição direta em que o único critério criativo seria a dimensão do projeto prometido.
Poderíamos prometer um cais e um terminal para cruzeiros, em plena baía de Angra e despachávamos de vez um parque arqueológico subaquático, pois isso de preservar umas 'coisas' históricas afundadas não dá votos, mesmo que esse parque pudesse ser devidamente promovido e de ser uma atração e atividade turística (até parece que os turistas têm muito que fazer na nossa ilha).
Em vez de aliviar o trânsito na Rua da Sé, poderíamos prometer a sua promoção a avenida, com duas faixas de rodagem de cada lado com um separador central, isso é que seria uma marca de 'desenvolvimento'! E dávamos um 'pontapé' no estatuto de património da nossa cidade para ficarmos tal e qual como as outras grandes cidades.
Privilegiar o comércio tradicional na Rua da Sé e centro histórico da cidade seria um 'pecado mortal', seria preferível que a autarquia pagasse a construção de um centro comercial nos antigos celeiros para ser explorado por um privado que, de certeza, saberia gerir melhor do que ninguém, mesmo que isso retirasse movimento ao comércio tradicional da Rua da Sé e centro histórico, o qual passaria a servir de bancada para assistir ao Grande Prémio de uma Fórmula qualquer, na tal avenida com duas faixas de rodagem de cada lado.
Promessas absurdas? Talvez nem por isso, pois se bem me lembro já tivemos candidatos (e não foram do BE) que ganharam eleições autárquicas em Angra e que prometeram construir um aquaparque no Fanal e uns jardins suspensos, no atual Jardim de Angra, quando poderíamos optar por, quem sabe, (re)transformar o Fanal numa zona balnear e de lazer e de cuidar do Jardim de Angra, por sinal, um dos mais bonitos do país.
A marina de Angra foi também um projeto que colheu a concordância de muita boa gente, mas que agora fazem de conta que nunca estiveram de acordo com tal aberração. Porventura, nos que dias que correm, muitos concordariam com um cais de cruzeiros, um eventual alargamento da Rua da Sé, a construção de um centro comercial nos celeiros (mesmo com o atual poder de compra), para daqui por uns tempos, discordarem daquilo que considerarão um total disparate.
Por entre o populismo e a demagogia, será mais do que suficiente apresentar um projeto que assente num desenvolvimento sustentado para a cidade e concelho. Contudo, essa não é uma tarefa fácil e requer coragem para não embarcar em devaneios do momento que só transformarão a nossa cidade numa qualquer cópia mal conseguida de outras tantas cidades.
A nossa candidatura tem apresentado propostas claras e assentes num modelo de desenvolvimento distinto do modelo defendido pelo PS e pela coligação 'Por Angra' (a coligação que é constituída pelos mesmos ideais defendidos por aqueles que nos governam, mas que nada tem a ver com quem nos governa – confuso?). Assumimos que são discutíveis e é, também por isso, que queremos estar representados na Câmara e na Assembleia Municipal de Angra e nas freguesias em que apresentamos candidaturas, pois só assim as poderemos discutir, olhos nos olhos.