Um título sem sentido? Pois. Até há algum tempo atrás, poderíamos considerar que o conteúdo do título não fazia sentido. Demasiada antítese.
Pois. Há algum tempo atrás, o ensino público era um dos exemplos da democracia, do direito e da igualdade. O ensino público servia a todos: do mais inteligente ao menos inteligente, do que os pais detinham mais possibilidade económica, aos que os seus pais detinham menos capacidade económica.
Ali, na instituição pública, todas e todos tinham a mesma oportunidade.
Centremo-nos na atualidade. Vergonhosamente, a atualidade confirmou que andam todos a criticar o Crato e o ensino privado, mas que nos Açores, subtilmente, se ruma na mesma onda.
É a onda do ensino privado. Atenção: privado, mas financiado por verba pública. Ou seja, deixa-se de apoiar o ensino público, dá-se ordem para reduzir custos, não há verbas, está tudo em crise, mas apoia-se o ensino privado.
Vivemos numa época em que o conceito “crise” serve para justificar tudo. Justifica cortes, justifica os, cada vez mais acentuados, desequilíbrios sociais, justifica despedimentos, justifica a fome, justifica gráficos desesperantes…
Tenuemente, retira-se a importância das IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) que desde sempre colmataram as lacunas que o Estado não consegue dar resposta (não consegue, nem quer dar), arranja-se um novo modelo de financiamento, no qual fica bem claro a palavra “particular”, esquecendo-se assim da importância que tiveram e têm na sociedade. Não há verba para as IPSS’s. São particulares. Têm de se autossustentar.
E têm de se autossustentar porque parece que a onda do colégio particular veio para ficar. E assim, o ensino público torna-se num género de gueto, onde os mais desfavorecidos terão um espaço para estudar, quase ao jeito de caridade, por parte do governo…uma benesse aos pobrezinhos. Coitadinhos. São pobrezinhos, mas merecem um lugarzinho, com cadeirinhas e mesinhas e alguns professorzinhos… somos tão justinhos com os pobrezinhos.
Pois. Parece que a inspiração cristã chegou em força à Terceira. A inspiração cristã vai proceder ao ensino privado com financiamento público.
E já se fez saber que a inspiração cristã terá os melhores docentes… falta saber quais os critérios, definidos por tanta inspiração, determinados para revelar o top do corpo docente.
Será que este top engloba docentes formados na Universidade dos Açores? Ou será que esta instituição de ensino público não apresenta um corpo docente suficientemente apto a habilitar o top docente para colégios privados?
E assim, e com a alteração do Estatuto do Ensino Particular, Cooperativo e Solidário (que foi objeto de proposta de alteração da responsabilidade do Bloco de Esquerda, para evitar este tipo de situações) assiste-se e/ou confirma-se o afastamento, cada vez maior, do PS e do socialismo.
Desta forma, e com inspiração cristã, o PS potencia e financia o fosso e o desequilíbrio social no ensino.
O PS afasta-se do socialismo. Confirma-se que PS não é sinónimo de socialismo. Assiste-se à aproximação do PS Açores à direita.
Enfim. Incoerências.