Não obstante aos festejos, estes últimos dias, tal como os que se seguem, foram passados a olhar para a época de exames que se avizinha. Naturalmente que a maioria do meu pensamento acaba por ser formatado pela quantidade de informação que estou assimilar. Enquanto via Psicologia Social ocorreu-me uma possível explicação para o ódio (e além disso), que me parece plausível olhando para Filosofia Antiga e Filosofia do Conhecimento. Bem sei que assim colocado, este texto não parece muito apelativo, mas pode ter umas conclusões giras para pensar, ou, pelo menos, pode ser encarado como mero exercício refletivo de início de ano – a quem escolher esta última via, aconselho a tentar encontrar falácias, quer formais, quer informais.
Nós, pessoas, queremos respostas: somos curiosos por natureza. Quando aprendemos algo contraintuitivo, o nosso cérebro rejubila. Como é que seres tais têm, muitas vezes, tamanhas dificuldades em estudar? Como é que tanta gente afirma não gostar da escola? Podia-se afirmar que é uma questão de gosto temático, de dizer que gostamos de aprender sobre aquilo que gostamos. Decerto que esta deve ser uma condição a ter em conta, mas nós conseguimos encontrar coisas interessantes em praticamente tudo. O ensino obrigatório é uma coleção de informação sobre muitas áreas, sendo um conhecimento eminentemente superficial. Aquilo que me parece ser a primeira chave para esta questão é o nosso comportamento perante algo que não entendemos: desligamos. Até nos podemos esforçar um pouco para perceber, mas a nossa tendência é fugir. Isto faz sentido: nós, tal como ditam as leis da Física, queremos estabilidade, sendo que ter algo que faz despender muita energia (ainda por cima sem uma motivação musculada), é um atentado a esse desejo. Temos uma tendência natural a largar o que não percebemos.
Por uns momentos naquilo que melhor compreendemos: aquilo em tocamos. As realidades materiais são por nós facilmente assimiláveis. Uma lista de instruções, como plantar algo, fazer operações aritméticas com rochas, funcionamento de órgãos através da sua manipulação,… Na escola aquilo que acontece muitas vezes é abordarmos temas (importantes, não digo o contrário) que são essencialmente abstratas. Ora, nós evoluímos de forma a assimilar o abstrato na medida do raciocínio, mas esta manipulação requer muita energia quando não temos conceito e imagens bem definidas em mente. Todos os campos do conhecimento evoluem naturalmente para esta abstração, complicam-se à medida que o nosso edifício do conhecimento cresce. Sobre o ensino, o importante é manter todo o conhecimento que é possível de o fazer, mais material possível, mais perto do nosso quotidiano.
Esta questão da abstração adiciona novas hipóteses às discussões. Nestas últimas décadas temos literatura muitíssimo desenvolvida sobre estudos feministas, queer, raciais,… Naturalmente, a estranheza que falei se pode manifestar. Se também tivermos em mente que não perceber algo nos constrange e odiamos ser confrontados com os nossos limites, temo aqui a semente de um sentimento negativo, sedento de uma associação.
Quando pegamos nestes últimos ingredientes e adicionamos o nosso sentido de superioridade latente, temos uma teoria para a origem das nossas aversões (muito incompleta, não incluindo se quer as questões sociais e culturais).
Assim se pode explicar como alguém discriminado, pode ser também discriminador, bem como o alento populista das teorias da conspiração. Paciência e persistência são as chaves.