
O parlamento aprovou hoje por unanimidade um voto de saudação apresentado pelo Bloco de Esquerda pelos cem anos do nascimento do escritor açoriano José Dias de Melo, que assinala a importância da sua obra literária e destaca o seu percurso de resistência e oposição à ditadura do Estado Novo.
José Dias de Melo nasceu há 100 anos, no dia 8 de abril de 1925, na Calheta de Nesquim, ilha do Pico, a ilha das “Pedras Negras”. Estudou no liceu e Magistério Primário da Horta. Através do jornal “Telégrafo”, iniciaria então uma longa colaboração com a imprensa, que viria a incluir o “Correio dos Açores”, o “Açoriano Oriental”, o “Diário de Notícias” e o “Diário de Lisboa”. Em 1944 fundou a Associação Cultural Académica, juntamente com colegas do Liceu da Horta.
Em 1949 mudou-se para Ponta Delgada, cidade onde lecionou no ensino primário e preparatório e onde fundou a cooperativa Sextante em 1970. Perseguições políticas obrigaram-no a abandonar a ilha de São Miguel e estabelecer-se em Lisboa onde continuou a docência e a colaboração com a imprensa.
Em 1954 publicou a sua primeira obra, o livro de poemas “Toadas do Mar e da Terra”, a que se seguiram “Mar Rubro” em 1958 e “Pedras Negras” em 1964, sendo esta a sua obra mais conhecida, sobre baleação e baleeiros, em que expõe problemas relacionados com a pobreza insular, a guerra colonial e a emigração para a América do Norte. Em 1985 publica “Na memória das gentes”, um retrato da sociedade picoense, seguidos de “O Autógrafo” em 1999 e o romance “Milhas Contadas” em 2002.
Foi, além, de professor e escritor de poesia, romances, contos e crónicas, um resistente antifascista. Assumido como homem de esquerda, a sua escrita, de estilo neorrealista e comprometida com a descrição vívida das condições de vida dos seus conterrâneos, denunciou injustiças sociais, e deu protagonismo ao seu povo e respetiva memória.
Foi condecorado, em 1990, com a Ordem do Infante e, em 2002, pelo município das Lajes do Pico, com o título de Cidadão Honorário do Concelho. Em 2008, foi-lhe prestada homenagem pela Presidência do Governo dos Açores, em Ponta Delgada e a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores distinguiu-o com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento. Faleceu em setembro desse mesmo ano, em Ponta Delgada, com 83 anos.
Em 2025, cem anos depois do seu nascimento, comemorou-se a data e o escritor na Região: a Direção Regional dos Assuntos Culturais, através das Bibliotecas Públicas Luís da Silva Ribeiro e João José da Graça, a Câmara Municipal das Lajes do Pico e o Partido Comunista Português, partido em que militou.
No discurso de agradecimento a uma das suas homenagens, disse: “Sou escritor. Português – porque sou cidadão do meu País, Portugal. Açoriano – porque sou cidadão dos Açores. Mas, mais restritamente e acima de tudo – sou um escritor do Pico. Da minha Ilha, da minha Terra. E, porque sou Povo – do Povo da minha, da nossa Ilha, da minha, da nossa Terra.”