Agora que já se percebeu que uma transição energética é incontornável, os grandes grupos financeiros não querem perder as relações de exploração que os enriqueceram, ou a influência institucional que têm. Propõem formas de transição que não transitam nada, querem manter tudo como estava, trocam os antigos problemas ambientais por novos problemas ambientais.
Gerard Barron, da empresa “The Metals Company” disse: “O futuro é metálico”. Segundo os interesses do costume, a transição do fóssil para a energia elétrica e renováveis a larga escala implica a extração de milhões de toneladas de metais do fundo do mar. Esses metais não existem em todas as parte do globo. Mas existem aqui nos Açores.
Mas é também nos Açores, com a ciência que é feita aqui, que estão a ser estudados os efeitos nefastos que a exploração mineira terá para os ecossistemas oceânicos. O bom estado do oceano, esse sim, é fundamental para evitar a catástrofe climática. E poucos sítios do mundo são tão importantes para estudar o oceano e a sua conservação como o mar dos Açores. Para que percebamos quais são as alternativas possíveis e mais viáveis - como o serviço público de energia renovável e a circularidade da economia - para uma transição realmente justa para os trabalhadores e para toda a gente.
No entanto, a pressão para a mineração não é só comercial, é económica e é política. E esta pressão não vem só de multinacionais ou da Europa. Vem também de Lisboa. E é com a justificação de salvaguardar projetos de superior interesse nacional (como também justificaram os do lítio) que a República não quer deixar que os Açores tenham direito a um parecer vinculativo sobre o que pode ou não acontecer no mar dos Açores. Não queremos que nos venham impingir projetos de mineração em nome do superior interesse nacional - ou será que devemos dizer superior interesse colonial?
Precisamos de mais visão e de mais ambição. Se é urgente proteger o nosso mar e se a criação de áreas marinhas protegidas é uma ferramenta essencial para tal, não queremos que se dê um passo maior que a perna, como o Governo regional fez prometendo ter uma proposta pronta para 30% de proteção até ao final deste ano. Agora, claro, não só não irá cumprir esse prazo, como, com a pressa de o fazer, atropelou passos importantes nas negociações e na fabricação de consensos. O processo de definição e negociação das AMP tem, verdadeiramente, de ser consertado com todas as partes, e isso exige empenho, estratégia, dedicação e vontade política. Não queremos mais reservas de papel que ficam bem nas campanhas e nas notícias mas pouco ou nenhum efeito têm na preservação da vida marinha.
Aliás, no que diz respeito ao Mar, este governo regional falhou em toda a linha. Na distribuição das pastas pelos partidos da coligação, relegou para último plano esta matéria essencial e estratégica para a região. Descolou o mar da ciência e não planeou absolutamente nada de novo.