Como há muito é evidente, a base das Lajes e os Açores são para os EUA uma base pronta a ativar sempre que necessário, apesar de as suas atenções estarem cada vez mais viradas para o Pacífico.
Os ataques de 22 de junho ao Irão, que contaram com apoio logístico na base das Lajes, assim o demonstram. Esse ataque foi ilegal à luz do direito internacional e é, por isso, mais uma mancha na história dos Açores.
O Governo da República e o Governo Regional defenderam a utilização da base das Lajes pelos EUA, alegando o cumprimento do acordo bilateral entre Portugal e os EUA, e fingem não ter visto que o ataque não cumpriu o direito internacional.
Portugal é, assim, cúmplice da consolidação da força das armas enquanto único direito real vigente no mundo. É certo que podemos encontrar, ao longo da história da Carta das Nações Unidas, várias violações desta, mas os últimos anos e as sucessivas violações pelas grandes potências nucleares principalmente pelos EUA e pela Rússia ameaçam tornar o direito internacional letra morta.
É ridícula a tentativa do Ministério da Defesa de atenuar a gravidade do que aconteceu ao afirmar que as operações dos EUA “não envolveram meios aéreos ofensivos”. Como se os aviões abastecedores tivessem abastecido aviões civis. Ao menos, não nos tomem por parvos.
Por cá, nos Açores, logo se colocaram em bicos de pés os governantes regionais, com Bolieiro a lembrar a “relevância geoestratégica dos Açores”. Para Bolieiro, é irrelevante que se utilizem os Açores para ajudar Israel numa guerra ilegal, desde que isso sirva para um autoelogio bacoco.
O PS ainda esboçou uma pergunta, mas logo meteu a viola no saco, quase pedindo desculpa por ter incomodado.
Todos colocaram à frente do respeito pelo direito internacional o respeitinho pela grande superpotência mundial. Nenhum será especialmente adepto de Trump e da sua forma de ameaçar o mundo dia sim, dia não, mas dobram-se perante o seu poder sem esboçar uma palavra.
Esqueceram rapidamente a contaminação da ilha Terceira e os salários abaixo do salário mínimo na base. Tudo para estarem nas boas graças de Trump.
Com políticos destes, que respeitam mais a força das armas do que o direito e a paz, os Açores nunca passarão de uma “rotunda”, como nos chama o Almirante que quer ser presidente - uma “rotunda” da “guerra”, acrescento eu.