Nestes últimos dias ouvimos falar sobre as questões do abandono escolar. Permitam-me deslocar um pouco o assunto e olhar para o ensino superior.
De acordo com os dados da Pordata, em 2020 13,1% dos açorianos tinham frequentado o ensino superior. Trata-se de um aumento na ordem dos 10% desde 1998, no entanto, este crescimento não faz com que os Açores deixem de ser a região do país com a percentagem mais baixa.
Ao olharmos para a Madeira percebemos que se trata da segunda região com o indicador mais baixo, levando a crer que aquilo que existe é também o não retorno dos jovens que saem das regiões autónomas para estudar.
Esta necessidade de conseguirmos fixar pessoas qualificadas tem de ir muito além da forma como se encara à primeira vista o problema: empreendedorismo ou estágios. Os dois levam à instabilidade. Mas além disso falta ver mais: ver além do emprego. Nós não vivemos para trabalhar. O trabalho é a forma de darmos algo à comunidade com o objetivo de usufruir dos frutos do trabalho de todos. Aquilo que queremos, estudantes açorianos no ensino superior, é trabalhar na nossa área, claro, mas também ter condições para viver bem: cuidados de saúde enrobustecidos, educação de qualidade, cultura diversificada e acessível, bons espaços públicos, boas vias de comunicação,… Até a inclusão social, o esforço de combate ao ódio de um local, assume especial relevância. E não estamos só a falar de fixar uma pessoa. Estamos a falar de constituir famílias.
Existe um potencial tremendo nos Açores em relação a diversas áreas de estudo, diversos setores económicos. É triste ver que os sucessivos Governos Regionais acabaram por fechar os olhos a tantas oportunidades, sendo o setor aeroespacial um exemplo de uma exceção que coloca os Açores no mapa, já com unidades de investigação a serem elogiadas. É possível criar emprego, é preciso é haver vontade política de cortar nas benesses dadas aos amigos e fazer verdadeiramente uma questão sobre o papel dos Açores.
Estando a questão do emprego arrumada, temos também a necessidade de ter serviços públicos de qualidade. A política faz-se de prioridades, e o bem-estar dos açorianos deve nortear o nosso Governo Regional.
A passagem pelo ensino superior é, provavelmente, na maioria dos casos esgotante e stressante. É um mundo novo, com injustiças, muito trabalho, muito esforço. Existem muitas incertezas e aquilo que queremos é alguma estabilidade. Nós queremos voltar para os Açores, mas para isso é preciso que haja real desenvolvimento.
Mas que se note que a baixa taxa de pessoas com ensino superior não se prende só com a questão do não retorno: estudar fora é caro. Felizmente existem vários apoios sociais, mas cada vez mais a habitação acaba por encarecer. Não há residências para todos. Não são poucos os que não conseguem continuar a estudar porque a família não consegue suportar esses custos.
Felizmente existem alguns esforços extra para melhorarem a situação, como bolsas, no entanto aquilo que precisamos são de respostas duradouras, como no caso da habitação. E o que precisamos é também de discutir o papel das propinas, quando aquilo que queremos é uma sociedade onde a educação deve ser acessível a todos.