A teia

Nos últimos meses têm sido várias as polémicas que envolvem o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada.

Para começar, foi duvidosa a opção de mudar o conselho de administração (CA) do HDES em plena pandemia com os serviços de saúde sobre grande pressão. Note-se que, dos 3 hospitais da região, o HDES foi o único em que este governo regional decidiu mudar a administração.

Logo aí as coisas começaram aos tropeções com a administradora financeira a bater com a porta, no seguimento da destituição da diretora financeira, contra a opinião da administradora com essa pasta.

Não sem antes ter existido uma polémica pública devido à nomeação da cônjuge do atual diretor clínico e membro do conselho de Administração para uma direção de serviços.

 Mas não se ficam por aí os problemas. O atual diretor clínico do HDES acumula essas funções com atividade médica em clínica privada, em clara violação do Estatuto dos Hospitais e Centros Hospitalares, para não falar da questão ética: como é que um administrador de um hospital público pode acumular atividade numa empresa privada?

O Bloco de Esquerda questionou o governo regional sobre esta acumulação e mais de um mês depois não temos resposta. As decisões que violam princípios éticos sucedem-se e as relações familiares também. A quantidade muda a qualidade.

É inconcebível que o marido da presidente do CA seja nomeado para vários cargos no HDES, entre os quais Responsável da Unidade de Epidemiologia Clínica.

Note-se que o médico em questão não é funcionário do HDES (é médico de saúde pública em Braga) e desempenha(va) funções de médico do trabalho no HDES através de uma empresa, a mesma onde trabalha o diretor clínico do HDES. É certo que essa relação entre o médico em questão, Mário Freitas, a empresa e HDES, vem de 2014, mas, segundo o próprio CA ele continua a prestar serviços de medicina no trabalho, pese embora o contrato tenha sido denunciado pelo anterior CA.

 Deve perguntar-se então em que moldes esse serviço é prestado? Que tipo de contrato é este e que direitos e responsabilidades têm as partes? Como se justifica que o responsável da Unidade de Epidemiologia, que, ao que parece, produz estatísticas do HDES, seja alguém que nem é quadro do hospital e até trabalha de borla? Tudo isto exige um completo esclarecimento!

 Não deixa de ser curioso que o presidente do governo regional tenha, numa semana, garantido a André Ventura que não existiam nomeações de familiares diretos, para dias depois, ao lado de quem nomeia familiares diretos, dizer que “uma coisa é defender essa postura outra é, perante uma situação concreta, considerá-la nepotismo quando pode não ser”. Afinal só não concorda com o nepotismo em teoria.

 Acresce a isso, e por falta de espaço para outros problemas graves, a situação do alegado ataque informático que paralisou o HDES em várias ocasiões, que aparentemente ainda não está resolvido e sobre o qual ninguém fala.

 O Bloco há um mês que colocou um conjunto de perguntas ao Governo sobre este alegado ataque e até hoje não obteve respostas.

 A única coisa que sabemos é que o responsável de informática foi demitido mas, segundo o CA, a investigação ainda não está concluída. Que investigação é esta que antes de concluída já levou a demissões?

 É por estes e outros problemas que o Bloco quer ouvir um conjunto de entidades no parlamento, a começar pelo CA e pelo governo regional. Mas, uma coisa é certa, esta teia de interesses, de relações familiares e partidárias, deve deixar toda a gente muito atenta.